Em meio aos preparativos para a visita do papa Bento XVI ao Brasil, marcada para maio, alguns setores da Igreja Católica estão preocupados com a questão do recrudescimento das ameaças de morte contra bispos, padres, freiras e agentes pastorais.
De acordo com levantamento feito a partir de informações da Secretaria Nacional de Direitos Humanos e de pastorais sociais, a lista tem dez nomes – todos da região amazônica, todos envolvidos com questões sociais e ambientais.
Três deles são bispos. O Pará, onde a irmã Dorothy Stang foi assassinada em 2005, é o estado com maior número de ameaçados: cinco pessoas da lista são de lá. Rondônia aparece em segundo lugar, com três nomes; e o Mato Grosso em terceiro, com dois.
Na prelazia paraense do Xingu, que engloba o município de Anapu, onde Dorothy vivia, o bispo Erwin Kräutler está sendo obrigado a fazer as visitas pastorais com um agente de segurança da Polícia Militar ao seu lado. O mesmo ocorre com o frade dominicano e advogado Henri des Roziers, que trabalha no escritório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Xinguara, também no Pará.
Em Alta Floresta, Mato Grosso, a freira Leonora Brunetto dispensou a segurança oferecida pelas autoridades federais. Justificou-se dizendo que só aceitaria o esquema de proteção se pudesse ser estendido às lideranças dos movimentos de sem-terra com os quais ela atua. “Não seria justo deixar essa gente no perigo e sair de lado”, explicou. “Diante de Deus não seria nada bom.”
Com proteção especial, ela provavelmente se livraria de ameaças que ouve até quando caminha pelas ruas de Alta Floresta – cidade de 15 mil habitantes, a 720 quilômetros de Cuiabá e conturbada por conflitos em torno da posse da terra e da extração da madeira.
“A gente não tem pressa”, disseram-lhe dias atrás. “Pode ser hoje ou amanhã, mas vai acontecer.” Pelo telefone, por cartas e até bilhetes jogados diante de sua casa, a freira de 61 anos já foi xingada várias vezes.
Em Anapu, o padre Amaro de Souza, que trabalhava com a irmã Dorothy, também dispensou o esquema de segurança, com dois PMs, mas o motivo dele foi outro: “Disseram que o transporte, o alojamento e a alimentação dos seguranças ficariam por nossa conta. Não temos condições para isso.”
Temeroso, o padre mantém três cachorros no quintal de casa. “Eles me avisam quando qualquer estranho se aproxima. Preciso tomar cuidado, porque o consórcio de grileiros que encomendou a morte de Dorothy ainda está atuante.”
Além de d. Erwin, os bispos que receberam ameaças foram d. Geraldo Verdier, da Diocese de Guajará-Mirim, região de Rondônia localizada na fronteira do Brasil com a Bolívia; e d. Antonio Posamai, de Ji-Paraná, no mesmo estado.
O primeiro, um francês naturalizado brasileiro, de 70 anos, dos quais 42 vividos aqui, foi ameaçado de morte porque tomou o partido de um assentado da reforma agrária que teve sua terra tomada por um grileiro. Depois teve problemas por ter denunciado casos de torturas, que teriam sido praticadas por policiais da cidade. “Uma vez me chamaram para socorrer um homem que estava sendo torturado. Encontrei-o no meio de uma poça de sangue”, contou ele.
Nenhum policial foi condenado. Por outro lado, o bispo, acusado por um dos policiais por danos morais, será julgado no próximo dia 15 de maio na sede de sua diocese. Em Ji-Paraná, o bispo recebeu uma carta com ameaças de morte, no ano passado, após ter denunciado casos de corrupção que estaria acontecendo no governo de Rondônia. No momento, o bispo também está sendo processado na Justiça.