“Precisamos nos organizar. O sistema prisional não é o fim de tudo. A sociedade e o Estado precisam compartilhar esse problema”. Foram com essas indagações que o gerente de inteligência penitenciária, Altair Camilo Vicente, debateu os procedimentos de segurança, disciplina do sistema penitenciário e procedimentos operacionais nesta quinta-feira, com os participantes do curso de formação continuada dos profissionais envolvidos na ressocialização do Vale do Arinos, que acontece em Juara.
Segundo Altair, o sistema prisional “nasceu muito grande, e por isso tem muitas falhas. Hoje a pessoa vai presa por roubar uma caixa de leite e sai do presídio especialista em outros crimes”, observou.
Para o gerente de inteligência, o processo de ressocialização de reeducandos com apoio da sociedade é de suma importância na redução dos índices de criminalidade. “O preso quando termina de cumprir sua pena, reingressa ao convívio social e não encontra trabalho, sofre preconceito, o que acaba fazendo com que ele retorne ao mundo do crime. Precisamos mudar esse círculo vicioso. Enquanto estamos parados, os presos estão se organizando, realizando um verdadeiro trabalho de inteligência criminal”.
“Hoje a situação chegou num ponto em que o detento não quer mais sair da cadeia, porque lá ele encontra comida, água, luz e não será hostilizado. E isso precisa ser revertido, tem que haver interação da sociedade com o processo de ressocialização”, completou.
Durante o debate o gerente citou o presídio feminino Ana Maria do Couto May, em Cuiabá, como exemplo de ressocialização. “Hoje o presídio é reconhecido nacionalmente por esse trabalho”.
Ao final da palestra, agentes prisionais de Juara e Porto dos Gaúchos tiveram noções práticas de procedimentos operacionais, como técnica de algemamento, condução de reeducando e revista pessoal.
Em meio ao debate, a diretora da cadeia de Porto dos Gaúchos, Rosilda Josefa da Silva, citou os trabalhos promovidos na unidade. “Há dois anos temos o curso de marcenaria em parceria com a prefeitura local, uma biblioteca, que teve colaboração do conselho da comunidade e poder judiciário, e uma sala de aula, onde é ofertada a educação básica completa”, destacou.
A diretora considerou importante a iniciativa do curso de formação continuada em Juara. “Criticar o sistema prisional é muito fácil. A sociedade precisa saber o que tem sido feito para melhoria, conhecer os projetos, apoiar os trabalhos desenvolvidos. Não podemos ficar de braços cruzados esperando ações do governo do Estado, afinal, ele tem muito o que olhar”.
Na cadeia de Porto dos Gaúchos há 18 reeducandos, sendo que oito deles freqüentam a sala de aula.