O médico brasileiro Mohamed Kassen Omais (que reside em Cuiabá) preso no Líbano na semana passada e liberado na última sexta-feira (22), deve receber hoje um relatório do governo libanês confirmando sua inocência, além da autorização para retornar ao Brasil. Em entrevista por telefone à Agência Brasil, Mohamed disse que o documento já foi entregue a seu advogado e que eles deverão se encontrar nas próximas horas.
“Estou aguardando o advogado chegar com meu passaporte, que já está na mão dele, junto com o meu relatório, dizendo da minha inocência e que eu posso viajar.”
Mohamed confirmou que pensa em acionar o governo libanês por danos morais sofridos durante a semana em que ficou preso, mas disse que só vai tomar uma decisão depois que voltar para o Brasil.
“Por enquanto, vou ver ainda se amadureço essa idéia ou não. Quando você sai de um presídio como aquele em que fiquei, sai muito alterado emocionalmente. No momento, quero descansar, relaxar um pouco e pensar melhor no que fazer. Sinceramente, não tomei nenhuma decisão.”
O médico deve deixar o Líbano na próxima quinta-feira (28), permanecendo, portanto, mais dois dias em Beirute. Mohamed disse que, entre seus planos, está o de “curtir a família”, já que, dos 14 dias previstos no Líbano, ficou em liberdade por apenas seis.
Segundo o médico, o consulado brasileiro em Beirute confirmou hoje que mandará representantes ao aeroporto para a despedida. Ao sair da capital libanesa, o avião fará escala em Paris, antes de seguir para o Brasil. Sua chegada a São Paulo está prevista para o início da tarde de sexta-feira (29) – de lá, ele deve seguir para Cuiabá, onde mora com a mulher e os três filhos.
“Os planos são de rever meus irmãos, que estão em Cuiabá, sentar com eles. Acho que devo alguns esclarecimentos também. Tentar relaxar, depois de tudo isso, e voltar ao trabalho. Numa situação como essa, fiquei com saudade até do trabalho.”
O brasileiro afirmou que compreende o fato de o governo libanês ter agido rapidamente para investigar uma suspeita, mas ressaltou que a estratégia deveria ter sido “menos pesada”. “Em hipótese nenhuma, foi levantada a minha inocência. Acho que direito tem que ter de ambas as partes. Só que me foi tirado o direito de defesa durante todo esse período.”
Segundo o médico, o que ocorreu com ele passou pode acontecer a outras pessoas no Líbano, sobretudo diante da atual situação do país. “É uma região de altos problemas, com muitas facções religiosas e políticas, com muitos problemas internos. Eu acredito que deve acontecer com muitas pessoas. Não deve ser só comigo.”
Quanto à hipótese de fraude no passaporte, levantada pelo governo libanês, Mohamed confirmou que o documento chegou a ser adulterado por um assessor libanês, em um momento de “desespero”, na tentativa de sair do país, mas garante que o documento não foi usado.
“Deixei esse passaporte antes de 2000 aqui e viajei para o Brasil com a finalidade de ficar. Não usava o passaporte para nada. No momento em que eu viajei, acabei deixando o passaporte na residência do meu pai e chegou às mãos dessa pessoa, que fez uso indevido. O governo libanês, não sei de que forma, ficou sabendo.”
O médico revela que tanto ele quanto o próprio governo libanês já têm conhecimento de quem é a pessoa que teria adulterado o documento, mas, a pedido do Líbano, o nome não foi revelado. Ele foi detido, no último dia 15, ao desembarcar, junto com a mulher, Gisele, no aeroporto de Beirute. Mohamed tinha ido buscar os filhos, que passavam férias com os avós, e teria sido confundido com um homônimo suspeito de envolvimento com terrorismo.