O Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) emitiu, semana passada, 23 notas de alerta às autoridades mato-grossenses, registrando a ocorrência de desmatamentos em nove unidades de conservação estaduais e terras indígenas. Os novos cortes, em áreas de floresta amazônica e cerrado, foram detectados através de imagens de satélite adquiridas na primeira quinzena de agosto. Cada nota corresponde a um novo polígono de desmatamento ou abertura para estrada encontrada, por isso, uma mesma unidade pode estar relacionada a mais de uma notificação.
Os alertas têm como objetivo flagrar o princípio da abertura da mata, quando os órgãos responsáveis ainda podem coibir o ilícito, e marcam o início do relátorio 2009 do Programa de Monitoramento de Áreas Especiais (ProAE). “Começamos com as unidades que mais registraram desmatamentos no ano passado, mas ainda vamos analisar todas as 120 áreas especiais do Mato Grosso até a divulgação do relatório final, em 2010”, explica Janete Rodrigues, chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do Sipam em Porto Velho.
O trabalho já aponta a continuidade da pressão humana sobre as áreas mais vitimadas em 2008. A Área de Proteção Ambiental (APA) Cabeceiras do Rio Cuiabá, localizada nos municípios de Nobres, Rosário Oeste e Nova Brasilândia, já foi líder em desmatamento no último relatório do ProAE, com quase 3 mil hectares desflorestados entre 2007 e 2008. Agora, 3 notas de alerta voltam a registrar desmates no local, com acréscimo de 537 hectares impactados. Nesse ritmo de desmatamento anual, mais de 40% da vegetação da unidade já desapareceu. Outra unidade estadual em alerta é a Resex Guariba/Roosevelt, que registrou pequenos desmatamentos de até 30 hectares.
Em maior número, as terras indígenas (TI) também registram mais desmatamentos, entretanto, os polígonos são em geral menores do que 10 hectares ou apenas detectam a abertura de estradas. Mais uma vez, as líderes em desmatamento no ano passado, TI Maraiwatsede, em Alto Boa Vista, e Zoró, em Aripuanã (com 1,4 mil e 1,05 mil desflorestados em 2008, respectivamente) também geraram alertas em 2009. Porém, agora, os maiores danos foram registrados na TI Bakairi, em Paranatinga, que teve desmatamentos de até 769 hectares, surgidos após queimadas. Apiaka-kaiabi, Aripuanã, Erikbatsa e Menku são as outras terras indígenas sob alerta.
As notas de alerta foram enviadas à Fundação Nacional do Índio (Funai), Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMA) e aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, órgãos responsáveis pela fiscalização das áreas especiais. Desde 2005, o trabalho já ajudou a controlar não somente desmatamentos, como outras atividades ilícitas nessas áreas. Um exemplo foi o garimpo de ouro descoberto pela Funai na Terra Indígena Wasusu, após alerta do Sipam. “Recebemos o comunicado e, seguindo suas coordenadas, fomos ao local, onde identificamos o garimpo no rio Novo. Como a área é grande, contar com o apoio do satélite é vital”, revela Benedito César Garcia Araújo, administrador regional da Funai em Cuiabá.
Para o gerente regional do Sipam, José Neumar da Silveira, o diferencial do ProAE está na identificação da intenção de desmatar logo no início, na forma de cortes seletivos, abertura de linhas ou queimadas. Isso possibilita a ação dos parceiros contra a devastação. “O sucesso dessa parceria foi registrado no ano passado, quando mais de 30 unidades tiveram desmatamento zero”, diz Neumar.