Combater a criminalidade e revitalizar a área da reserva ecológica localizada no entorno do maior centro de eventos de Mato Grosso é um dos maiores desafios do Estado que se prepara para, em 2014, ser uma das subsedes da Copa do Mundo de Futebol. A ideia é transformar o local, onde já foram registrados homicídios e assaltos violentos, em um complexo turístico que aproveitaria o potencial natural da região. Entre elas a instalação de um mirante, um deck suspenso para observação, restaurantes e até um teleférico, ligando o ponto ao Parque Mãe Bonifácia, instalado na região.
A proposta é do diretor de infraestrutura da Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo (Agecopa), Carlos Brito. Ele acredita que se forem firmadas parcerias entre governo e iniciativa privada, o projeto pode começar a se concretizar a partir do segundo semestre de 2011.
Em visita ao local durante a semana, Brito e o arquiteto Ademar Poppi, gerente do Centro de Treinamento da Agecopa, constataram a grande quantidade de lixo e a degradação de parte da área, pelos danos provenientes da retirada de aterros ainda do período de construção do Centro de Eventos do Pantanal. Uma cápsula de um projétil de pistola estava entre restos de preservativos e centenas de garrafas de bebidas alcoólicas, energéticos, peças de veículos desprendidas durante os rachas que fazem parte da rotina nas noites no "Mirantinho".
Localizado a 2 quilômetros da área central de Cuiabá, a região do Centro de Eventos tem acesso pela avenida Miguel Sutil, uma perimetral que corta grande parte da cidade. Oferece acesso fácil de veículos, inclusive daqueles vindos do aeroporto, em Várzea Grande e ao terminal rodoviário de Cuiabá. Está a apenas 5 minutos da rede hoteleira, do Estádio Verdão, principal cenário da Capital na Copa 2014, e do setor comercial de Cuiabá. Mas hoje, o local que foi descoberto inicialmente como um dos melhores pontos de observação da cidade, se transformou em um ponto de encontro de jovens onde a disputa de som, consumo de drogas, roubos e brigas acontecem nas madrugadas.
Brito, que já foi titular da Secretaria de Segurança Pública, diz que a situação em relação à violência no "Mirantinho" sempre o preocupou. Por isso, a decisão de dar o passo inicial para viabilizar os recursos para as obras. A Agecopa vai apresentar um esboço de projeto básico executivo a ser discutido com todos os setores da sociedade a ser finalizado em 60 dias. A partir da aprovação do projeto, a ideia é sair em busca de parceiros, tanto do setor público como na iniciativa privada.
Brito lembra que o projeto está aberto e com várias possibilidades. Uma sugerida por ele é a construção na área degradada de um restaurante-escola. Uma instituição de ensino profissionalizante poderia ocupar este espaço que além de atender o imenso público da região ofereceria oportunidade de trabalho e aprendizado à população.
Para o promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Ordem Urbanística e Patrimônio Cultural de Cuiabá, Gerson Barbosa, o primeiro passo a se tomar é identificar a quem pertencem as áreas do entorno do Centro de Eventos. Segundo ele, a área está classificada como Zona de Interesse Ambiental (ZIA) 2, isto é, que deve se manter praticamente intocada em relação as recursos naturais e tem, além do poder público, particulares entre os proprietários. Assegura que em caso de firmadas parceiras futuras para a elaboração de um projeto, todas as questões legais envolvendo a legislação ambiental terão que ser observadas. Inclusive nos consórcios firmados para execução das obras, tanto com o setor público como privado. Mas vê com bons olhos a ocupação, desde que atenda aos critérios legais e que vise a preservação da área. Disse que o assunto já chegou a ser tema de audiência pública entre os grupos que detém áreas na ZIA, sem contudo avançar para um projeto concreto de preservação e ocupação.
Para a diretoria do Sebrae, responsável pela construção do Centro de Eventos há 10 anos, não há como se posicionar sobre o projeto sem conhecê-lo oficialmente. Somente no ano de 2009 o Centro de Eventos do Pantanal recebeu mais de 232 mil visitantes, tanto de Cuiabá, interior, outros estados e do exterior. Está situado em uma área de 14 hectares de um total de 300 hectares em uma reserva ecológica de mata ciliar. O córrego do Ribeirão corta a reserva que faz divisa com os bairros Ribeirão do Lipa, Santa Marta e com a avenida Miguel Sutil. Do outro lado da pista está o Parque Mãe Bonifácia.
Bruno – Para o coronel PM Almir Balieiro, superintendente da Escola de Governo, a questão envolvendo a violência no "Mirantinho" marcou uma tragédia familiar. O filho, o estudante Bruno Balieiro, 22, foi morto com um tiro no rosto durante um assalto praticado por um grupo de criminosos e que era liderado por uma adolescente de 17 anos. O crime aconteceu no dia 17 de junho de 2005 quando o jovem estava no local com a namorada. Ele lembra que os próprios colegas de Bruno diziam que ele sempre tinha uma preocupação com a violência no local e alertava a todos para evitar o ponto de encontro.
Mas como lembra o pai, o filho sempre gostou de observar a lua e não atendeu a própria recomendação dada aos amigos e acabou sendo a primeira vítima do local que já registrou outras 3 mortes. Balieiro diz que levar segurança a um dos lugares com uma das melhores vistas da Capital deve ser um compromisso de todos. Tanto do Estado, como do cidadão. "Toda ação é importante. Uns com mais e outros com menos responsabilidade. Mas todos precisam fazer sua parte. Somente o Governo e a Polícia não podem conter sozinhos a violência".
O coronel ressalta ainda a responsabilidade dos pais dos jovens, que hoje insistem em frequentar o local. Segundo ele, o jovem, por sua natureza, não vê riscos e por isso é importante que os pais nunca desistam de lutar por eles. "Temos que ter consciência que uma tragédia que afeta outras famílias também pode acontecer na nossa. Por isso a luta contra a violência é de toda sociedade".