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E-mail cita novos personagens no assassinato do juiz Leopoldino

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Um e-mail supostamente enviado pelo juiz aposentado José Geraldo Palmeira ao advogado Zaid Arbid apresenta novos personagens e a que seria a verdadeira armação que resultou, em 1999, na morte do juiz Leopoldino Marques do Amaral. A mensagem eletrônica foi entregue ao Ministério Público Federal (MPF) no último dia de 27 maio, mais de 10 anos depois do assassinato que deflagrou a crise no Judiciário de Mato Grosso.

Cópia do e-mail foi entregue para investigação do MPF por um servidor do Tribunal de Justiça (TJ/MT) que preferiu se manter no anonimato. A mensagem foi encontrada durante varredura no computador do juiz José Geraldo Palmeira logo depois a decisão que levou à aposentadoria compulsória dele em 2004, após acusação de envolvimento em um plano para facilitar a fuga da traficante Maria Luiza Almirão, a "Branca".

A mensagem foi enviada às 11h38 do dia 9 de setembro de 1999 de um e-mail que usa o sobrenome do juiz aposentado e endereçada a Zaid Arbid, conhecido por fazer a defesa do bicheiro João Arcanjo Ribeiro, mas que também defendeu Geraldo Palmeira no processo que levou à aposentadoria compulsória do magistrado. Os endereços eletrônicos usam como base o provedor ZAZ, muito utilizado no final da década de 1990, mas raro nos dias de hoje.

O e-mail foi enviado dois dias após o corpo de Leopoldino ser encontrado com dois tiros na cabeça e parcialmente carbonizado em uma estrada de Concepción, município do Paraguai a 210 km da fronteira com o Brasil. O corpo foi localizado no dia 7 de setembro de 1999.

Intitulada de "Providências", a mensagem inicia-se com cumprimentos a Zaid Arbid, chamado de amigo, irmão e advogado pela pessoa que se identifica como Geraldo Palmeira. O texto possui referências a grandes pensadores, sendo dois filósofos (Epiteto e Sênceca) frequentemente citados em decisões judiciais.

Nome – O documento mostra que Geraldo Palmeira teria sido procurado pelo desembargador aposentado Odiles de Freitas, que teria afirmado estar presente à reunião em que o empresário Josino Guimarães encomendou a morte do juiz Leopoldino poucos dias antes do assassinato. "Estavam presentes ainda àquela sinistra reunião o sargento Jesus, da Polícia Militar, que juntamente com um outro militar de patente maior planejou os detalhes do crime, além de Waldir Piran, (empresário) que emprestou o campo de pouso de sua fazenda e seu avião para levar o corpo já sem vida para o Paraguai, e outras pessoas que não foram reveladas", diz trecho do e-mail.

A mensagem eletrônica revela ainda as que seriam as últimas horas de Leopoldino. Diz que ele estava em um hotel e recebeu um telefonema de uma mulher alegando que um dos filhos dela se envolveu em uma tragédia. Ao tentar ajudar, o juiz teria sido sequestrado a 100 metros do hotel, foi levado para uma fazenda de Waldir Piran, morto e colocado no avião do empresário para ser desovado em um local que não desse pista de pouso.

Pistas – Investigações oficiais da Polícia Federal mostram que Leopoldino foi visto pela última vez quando estava hospedado num hotel em Várzea Grande. Desde então surgiram várias teorias sobre como o corpo teria chegado ao Paraguai. Ao falar dos envolvidos, são citados no e-mail os nomes do sargento Jesus (assassinado em 2003), três pessoas identificadas apenas como Paulinho, um ex-agente da Polícia Rodoviária Federal conhecido como Fortes e João. Esse último teria usado o telefone para mandar a mulher ligar para Leopoldino pedindo socorro. A empreitada teria custado R$ 100 mil, que teriam sido pagos no dia da reunião na residência de Josino.

O objetivo do acordo seria primeiramente encomendar a morte de Geraldo Palmeira, já que havia suspeita que ele teria repassado a Leopoldino as informações que o juiz divulgou na CPI do Judiciário antes de ser assassinado, o que virou escândalo nacional expondo os bastidores da Justiça de Mato Grosso. Como não obtiveram sucesso no crime, teriam decidido matar Leopoldino. Depois do assassinato, alguns envolvidos teriam comemorado o fato no dia 8 de setembro, às 17h, em um conhecido bar de Cuiabá na Avenida Getúlio Vargas, em frente à Praça 8 de Abril.

O e-mail é finalizado com pedido de providências para que os autores do crimes sejam desmascarados. Até hoje, foram condenados apenas a ex-escrevente Beatriz Árias e o tio dela, Marcos Peralta, já falecido. A outra pessoa citado no caso foi Josino Guimarães, apontado à época como intermediário do crime, mas que não foi julgado ainda porque apresentou recurso no Supremo Tribunal Federal (STF).

Reinício – Uma cópia do e-mail foi entregue ao Ministério Público Federal e distribuída por sorteio à procuradora da República Ludmila Bortoleto Monteiro. Ela está de férias e não foi encontrada para falar das providências que vai tomar.

Até agora, só haviam surgido no escândalo os nomes de Beatriz Árias, Marcos Peralta e Josino Guimarães. Não há informações concretas de como o juiz foi parar no Paraguai.

Família – O filho mais velho do juiz assassinado, Leopoldino Marques do Amaral Júnior, hoje com 36 anos, afirma desconhecer o teor do e-mail. Diz ainda que a família prefere acompanhar o caso sem muito envolvimento por medo de represálias.

"Não sabia desse e-mail e nem dessas informações. Tudo isso mudou nossas vidas para sempre e o que a gente pode fazer agora é esperar que a Justiça seja feita", afirma Leopoldino Júnior. Por conta do escândalo, ele teve que se mudar para o interior do Estado onde vive com a família e evita o assédio. "As pessoas em Cuiabá sempre querem ficar sabendo se tem novidades do caso. A gente também ouve muitas coisas absurdas. Anteontem (quinta, 22) mesmo uma pessoa me perguntou se meu pai não estaria vivo e escondido. Isso é triste. Ele pagou com a vida o que tentou denunciar. Isso não tem como voltar atrás".

Polêmica – Além das denúncias que fez, os últimos dias de vida do juiz Leopoldino foram marcados por escândalos. Ele também foi acusado de acusado de desviar dinheiro da Vara de Família e Sucessões de Cuiabá, da qual era titular. Grande parte das acusações apresentas pelo magistrado, no entanto, foram confirmadas recentemente com a operação Asafe, da Polícia Federal, que apontou provas de venda de sentença e exploração de prestígio por parte de magistrados e advogados conhecidos do Estado.

Outro lado – O juiz Geraldo Palmeira preferiu não comentar o assunto. Apesar de ter sido avisado sobre o e-mail através de familiares, ele não retornou as ligações. Quem passou as informações foi um membro da família.

O mesmo ocorreu com Zaid Arbid e Waldir Piran. Procurados por A Gazeta por quase duas semanas nos escritórios que possuem em Cuiabá, eles não retornaram nem mesmo tendo sido alertados sobre o assunto.

Josino Guimarães também foi procurado em seu local de trabalho, mas não retornou.

A reportagem ligou para telefones do desembargador aposentado Odiles de Freitas, mas ele não retornou as ligações.

 

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