Mato Grosso pode sofrer um forte tremor de terra, com intensidade suficiente para ser sentido em Cuiabá e causar danos. É o que afirmam especialistas na área de Sismologia que observam a região de Porto dos Gaúchos. A região é monitorada constantemente pelo Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) por ter uma falha geológica.
O tremor com maior intensidade já registrado na história do Brasil ocorreu em 31 de janeiro de 1955 justamente em Porto dos Gaúchos e teve magnitude de 6.6 na escala Ritcher. O professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), doutor em Geologia e Recursos Hídricos, Prudêncio Castro, conta que a região está sujeita a um novo forte tremor, uma vez é uma região de sismicidade recorrente.
Segundo ele, o que ocorre em Porto dos Gaúchos é devido ao efeito andino, pois o município fica muito próximo à Cordilheira dos Andes. “Como a Cordilheira está ocupando a dianteira dos deslocamentos de todo o continente sul-americano, ali as rochas vão se dobrando e falhando. Aí, cada falha é um terremoto”.
Em 1955, o tremor de 6.6 não fez vítimas, pois a área era de floresta, mas hoje é considerada de risco geológico porque é uma região com cidades. Cuiabá sentiu um pouco do abalo, porém, em pequena intensidade. O professor conta que há relatos da época de uma senhora, na região do CPA, que ficou assustada com os copos se mexendo e de rapazes que estavam jogando bola
Apesar dos abalos sísmicos, Mato Grosso não tem um observatório. O único que existiu, há muitos anos, funcionava no Colégio São Gonçalo. Atualmente, todo o monitoramente é feito pela Universidade de Brasília e acompanhada chefe do observatório, Lucas Vieira Barros, especialista no estudo de tremores no Brasil cuja tese é sobra a zona sísmica de Porto dos Gaúchos.
Para os especialistas, a população não deve ficar alarmada com a possibilidade de um grande desastre, mas é preciso que saibam a possibilidade de um forte tremor ocorrer. Por causa dessa situação, em 1990 foi feita a Carta Geotécnica de Cuiabá, que traz orientações para as grandes construções nas proximidades da cidade, como pontes, viadutos, usinas e edifícios altos. Na carta, está especificado que todas as construções devem ser feitas de forma compatível com a magnitude dos abalos sísmicos verificados em Mato Grosso.
“As grandes obras tem que ter uma estrutura projetada para suportar os abalos sísmicos que já estão sendo verificados no Estado. O correto é que antes de qualquer construção deste porte seja consultada o documento técnico”.
Para Prudêncio, as obras da Copa trazem uma boa oportunidade para se fazer uma nova Carta Geotécnica, já que grandes construções serão feitas e o documento de 1990 está desatualizado. Ele explica que com o ritmo de crescimento de Cuiabá, o correto seria fazer as especificações técnicas pelo menos a cada 10 anos. A última tentativa de se fazer a carta ocorreu há alguns anos, por iniciativa da Prefeitura de Cuiabá, ainda no governo de Wilson Santos (PSDB), mas a conversa parou antes da realização do estudo.
“Eu acho que com toda a movimentação da Agecopa, ela deveria fazer uma nova carta geotécnica de Cuiabá. É um instrumento importantíssimo, pois não vai atender só as obras da Copa, isso será um legado que ficará por algumas décadas”.
A reportagem tentou falar com a Agecopa para saber se há o interesse na produção do documento, mas como havia uma reunião interna entre profissionais de imprensa das cidades- sede, não houve retorno da assessoria.