As péssimas condições de trafegabilidade das rodovias do interior do Estado que não possuem pavimentação, ou que estão com o asfalto deteriorado, ameaçam o início do ano letivo dos alunos que residem na zona rural e que precisam se deslocar até as cidades para estudar. Atoleiros, pontes quebradas, buracos e erosão fazem parte do cenário que muitas vezes deixam comunidades inteiras isoladas. Conforme o Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep) a situação se repete todos os anos e na maioria dos casos, as escolas precisam fazer ajustes no calendário escolar para garantir o cumprimento da carga horária mínima.
O presidente do Sintep, Gilmar Soares, acredita que a administração municipal não pode ficar refém da natureza e com planejamento pode minimizar os efeitos. Entre as ações, está a melhoria das estradas na estiagem e a construção de escolas rurais. Os veículos de transporte também precisam ser adaptados para enfrentar os obstáculos.
Na opinião de Soares, o ideal seria investir na expansão das unidades, mas o transporte escolar ainda é um “filão” para as empresas contratadas. Com a instalação de escolas próximas a moradia dos alunos, o aprendizado aumenta. “Hoje, os alunos ficam mais tempo dentro do carro, do que em sala de aula. Isto faz com que o estudante chegue no local cansado, prejudicando o aproveitamento”.
A secretária de administração de Nova Maringá (400 km a médio-norte de Cuiabá), Sônia Mara Magalhães, conta que existe o risco das aulas não começarem devido as chuvas e caso comecem, conforme o calendário, existe a certeza que o número de faltas será grande, principalmente dos alunos da zona rural.
As rodovias que dão acesso ao centro urbano estão críticas e comprometem também o abastecimento de dezenas de municípios. Alimentos perecíveis, como verduras e legumes, chegam aos mercados sem qualidade, por causa do tempo gasto no transporte que aumentou. O acréscimo é resultado dos atoleiros e buracos.
Outro problema está nas ruas da cidade, onde a erosão está tomando conta. Sônia relata que as chuvas formam enxurradas, que seguem até o córrego, arrastando tudo pela frente. O resultado é a formação de valas e assoreamento dos rios e córregos.
A secretária assegura que a gestão municipal tenta fazer o trabalho de emergência para garantir o direito de ir e vir dos moradores. O obstáculos são as chuvas intensas que persistem e são constantes. “Uma noite de chuva, acaba como todo trabalho de manutenção”.
O fato fez com que a cidade pedisse estado de emergência para ter acesso a recursos. O Estado homologou o pedido, que falta ser aceito pela Defesa Civil Nacional.
No momento, o município, com apoio da Defesa Civil Estadual, está elaborando o projeto de infraestrutura, que deverá ser encaminhado para o governo Federal e caso seja acatado, o estado de emergência é publicado em Diário Oficial.
Alto Boa Vista – O município de Alto Boa Vista (1.059 km a nordeste de Cuiabá) já teve o estado de emergência publicado no Diário Oficial da União, mas até ontem nenhum tipo de recurso foi aplicado pelos governos federal e estadual.
O prefeito Aldercides Milhomem não sabe mais o que fazer. Os cofres municipais não têm dinheiro suficiente para atender a demanda. A rede de ensino pública estuda a possibilidade de adiar o ano letivo porque não existe possibilidade de cumprir com as rotas do transporte escolar.
A cidade também está com o abastecimento de alimentos e combustíveis prejudicado. Os produtos demoram a chegar ao núcleo urbano devido aos atoleiros, o que aumentou o preço do transporte e também dos produtos. Alguns já são inacessíveis para a população.
As estradas vicinais estão em condição precária e algumas comunidades rurais não tem acesso ao centro urbano. A produção acaba sendo armazenada em condições precárias pelos produtores.
Alta Floresta – A prefeita de Alta Floresta (803 km ao norte de Cuiabá), Maria Isaura, relata que o problema do município está nas rodovias estaduais. As asfaltadas não têm condição de tráfego e as sem asfalto foram tomadas pelos atoleiros. As pontes, que são de madeira, também estão danificadas. Os motoristas correm risco de morte nas travessias.
Isaura afirma que haviam maquinários do Estado no local fazendo a manutenção, mas eles foram retirados. Os equipamentos faziam parte de programa “Mato Grosso 100% Equipado”, que é alvo de um processo judicial, que apura o superfaturamento na compra.
Caso as chuvas continuem intensas, o transporte de produtos pode ficar ainda mais precário. Isaura acrescenta que o mesma estrada que recebe os caminhões, também servem para o transporte de passageiros e o escolar, um dos mais prejudicados.
Apenas em Alta Floresta, passam cerca de 500 km de rodovias estaduais, onde o tráfego de caminhões de gado e madeira é intenso.As empresas começam a ter prejuízos pelos danos do transporte, o que afeta a economia da região.
A gestora está em busca de recursos para a manutenção. Existe a proposta de um contrato para aquisição de óleo diesel, mas segundo ela, o material será dado depois da abertura do orçamento, que a Secretaria de Transporte e Pavimentação Urbana (Setpus) acredita que aconteça na primeira quinzena deste mês.
Santa Cruz do Xingu – O secretário de Finanças de Santa Cruz do Xingu (1.230 km a noroeste), Luís Marcélio Carvalho, diz que as MT-080, que dá acesso ao município está cheia de buracos, mas não apresenta atoleiros. As pontes são a principal preocupação dos moradores.
Dentro do município são 8 travessias, entre pontes e pontilhões (estruturas menores). Todas estão danificadas. Os motoristas continuam passando porque não existe alternativa.
As tábuas estão velhas e podres. Parte delas não resistiu ao peso dos veículos e quebrou. Para não ficar ser acesso, os próprios condutores colocam madeira, de forma paliativa. Carvalho explica que existe uma proposta de pavimentação da rodovia pelo Estado, mas até ontem nada foi concretizado, comprometendo também o transporte escolar do município e prejudicando dezenas de alunos.
Outro lado – A Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação (Septus) informou, por meio da assessoria de imprensa, que distribuiu cerca de 100 mil litros de óleo diesel aos municípios que solicitara ao órgão ajuda para manutenção de MTs não pavimentadas. Entre os municípios beneficiados estão Apiacás, Nova Monte Verde, Nova Bandeirante, Tapurah, São José do Rio Claro, Tangará da Serra, Torixoréu, Ribeirãozinho, Castanheira e Bom Jesus do Araguaia.
A Septs também assegura que fará a recuperação de diversas rodovias estaduais por regiões de Mato Grosso ao longo do ano de 2011. Os primeiros trabalhos foram iniciados no mês de janeiro, pela região Sul, onde os trechos foram escolhidos a partir da situação de precariedade.