O contador Silvan Curvo revelou, em depoimento, que passava 80% do dinheiro desviado da Conta Única do Estado para sua irmã, a ex-coordenadora Magda Mara Curvo Muniz. Responsável por cooptar "laranjas", 11 no total, ele movimentou cerca de R$ 6 milhões dos R$ 15 milhões que saíram indevidamente. À delegada Cleibe Aparecida de Paula, contou que ficava com 10% dos saques e pagava os outros 10% para os laranjas.
Silvan foi ouvido durante toda a sexta-feira (1º) na sede da Delegacia Fazendária, onde se apresentou com seus advogados. Para a delegada, o depoimento foi um dos mais significativos no sentido de elucidar a fraude, que ele confessou operar desde 2007. Cleibe ressaltou que a oitiva comprovou que os laranjas também se beneficiaram da fraude e que alguns deles não são tão inocentes quanto tentaram parecer nos depoimentos. "Temos um trabalho adiantado de levantamento do patrimônio e a fala dele foi ao encontro disso".
Os desvios teriam começado após Magda pedir a ele que conseguisse pessoas próximas para serem incluídas na lista do BBPAG, sistema usado na Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz-MT) para pagamentos urgentes. Silvan então passou a cooptar funcionários domésticos e alguns familiares, entre eles sua esposa, Edilza Curvo. Com o dinheiro, pagava contas de sua casa, do escritório de contabilidade do qual é proprietário e de familiares. Algumas das faturas eram pagas usando diretamente os cartões bancários dos laranjas.
Cleibe minimizou também a hipótese de realizar uma acareação entre os irmãos Curvo afim de sanar as discrepâncias existentes nos depoimentos dos 2, uma vez que Magda negou ter conhecimento da fraude e Silvan destacou que não a orientou na área contábil. "Ele disse que ela sabia exatamente como fazer o esquema e em ne nhum momento o consultou".
Para a delegada, ainda não está comprovada a inocência da ex-secretária adjunta do Tesouro Estadual, Avaneth Almeida das Neves. "Da mesma forma que a Magda assinava os pagamentos fraudulentos, ela assinava".
Após cerca de 6 horas de depoimento, Silvan foi encaminhado para a sede da Polinter e deverá cumprir a prisão provisória, até que seus advogados consigam um habeas corpus junto à Vara Especializada Contra o Crime Organizado, José de Arimatéia Neves. Cleibe destacou que o inquérito já se encontra em fase final e deverá ser concluído em 20 dias. "Temos um conjunto robusto de provas sobre o crime e sua autoria".
Novos inquéritos – A investigação sobre o rombo na Conta Única originou outros 2 procedimentos abertos pela Delegacia Fazendária. Além dos pagamentos fraudulentos feitos para pessoas físicas, a Polícia tem indícios de que empresas também receberam dinheiro fruto dos desvios. Um relatório da Auditoria Geral do Estado (AGE) deverá ser concluído nos próximos dias a pedido da Polícia Civil. Um inquérito para apurar o crime de lavagem de dinheiro, cometido pelos servidores envolvidos, também está em andamento.
Também na próxima semana, os delegados da Delegacia Fazendária deverão se reunir com o promotor de Justiça da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Cuiabá, Roberto Aparecido Turin. A intenção é repassar todos os depoimentos colhidos no inquérito, além do levantamento do patrimônio dos envolvidos para que seja possível ingressar com uma ação pedindo a indisponibilidade dos bens.