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Vale do Rio Cuiabá tem mais de 90 mil residências impróprias

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Na região do Vale do Rio Cuiabá, que é composta pela Capital e também Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento (42 km de Cuiabá) e Santo Antônio do Leverger (34 km), existem mais de 90 mil domicílios particulares inadequados para moradia. Destes, 77.639 não possuem rede de esgoto e em 20.615 casas não há abastecimento de água, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério de Cidades. Outro problema é a falta de acesso à coleta de lixo, que atinge mais de 7 mil residências. Já Mato Grosso está entre os 9 estados brasileiros com maior déficit de acesso à rede de esgoto. Das cerca de 90 mil residências inadequadas por falta de infraestrutura na região metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, 32.075 estão apenas na Capital. Entre as consequências da precariedade dos serviços básicos está o aparecimento de doenças como diarréia, dengue, verminoses, hepatite A e esquistossomose.

O crescimento desordenado das cidades é uma das causas da falta de abastecimento de água e de acesso à rede de esgoto. Para o engenheiro sanitarista Luiz Airton Gomes, a falta de projetos e planejamento urbano são fatores que atrapalham o acesso da população ao saneamento básico e que prejudicam a saúde e a vida de quem mora nas zonas urbanas. “Também falta vontade política para que a infraestrutura básica seja prioridade na disponibilização de recursos e possa chegar às pessoas, mas a população também tem que pressionar os governantes para que seus direitos sejam garantidos”.

De acordo com o engenheiro, para que esses mais de 77 mil domicílios possam ter rede de esgoto seria necessário no mínimo 3 anos de intenso planejamento, busca por recursos e também de obras para que um projeto que envolva tantas casas possa ser realizado. “Existe um tempo necessário para que a parte burocrática seja feita e também é preciso que os projetos sejam muito bem executados, para que o trabalho final seja de qualidade. Porém, os resultados são muito mais abrangentes que o tempo a ser gasto com a obra e poderiam trazer diversos benefícios para a sociedade”. Para quem mora em locais onde a rede de esgoto é ainda um projeto distante, os problemas são vistos diariamente e as fossas improvisadas em terrenos irregulares são utilizadas para que os dejetos da casa sejam evacuados. Sem outra opção, as famílias constroem fossas rudimentares que comprometem a saúde de quem utiliza esse tipo de sistema.

Moradora há 15 anos do bairro Altos da Boa Vista, em Cuiabá, a doméstica Mariana da Silva, de 58 anos, aguarda com ansiedade a chegada da rede de esgoto. Ela utiliza uma fossa, porém, precisa lidar com a água da chuva e até mesmo o esgoto que vem das casas mais altas que a sua residência. “Quando chove desce essa água suja e alaga o meu quintal. Nas casas da parte baixa do bairro é pior porque alaga tudo. Na minha rua são 3 bocas de lobo para mais de 50 casas e ainda sem rede de esgoto, o que não dá pra quase nada”.

 Além dos constantes alagamentos, ela também precisa se preocupar com a saúde da família, principalmente do neto de 8 anos. “Criança a gente tem que ficar de olho, porque senão fica pisando nessa água de esgoto que escolhe pela rua e pode pegar alguma doença. Em outros bairros é tudo bonito e aqui a gente precisa conviver com essa sujeira de esgoto nas ruas todos os dias e ainda piora quando chove”. Mariana afirma que quando o problema não é a chuva, que causa alagamentos, o sol esquenta o esgoto e leva o fedor para dentro das casas, o que causa desconforto principalmente entre os idosos do bairro.

Outra moradora que também construiu uma fossa em sua casa por falta de opção é a copeira Raide Gercina Dias de Pinho, 40. Ela afirma que apesar de ter esperança da construção da rede de esgoto, seu sonho ainda parece distante. “iria melhorar muito o bairro com o esgoto encanado. Não sei quando eu vou pôr isso em prática, mas queria que aqui fosse como em outros bairros onde as pessoas não se preocupam com o esgoto”.

Já a comerciante Marcilene Paiva Silva, 40, afirma que a necessidade de uma rede de esgoto não é apenas pelo conforto dos moradores, mas também para preservar a saúde. “A gente tem medo, tem que cuidar das crianças pra que não pisem ou brinquem na rua. Ficam várias poças na rua, com essa água suja. É uma necessidade da população de qualquer cidade ter saneamento básico”.

Quando não há rede de esgoto as famílias utilizam, além de fossa rudimentares, valas ou até mesmo jogam em rios e córregos. O engenheiro sanitarista explica que esse tipo de esgotamento sanitário é indicado apenas para zonas rurais, pois no perímetro urbano pode comprometer a saúde da população. “Esse deveria ser um sistema emergencial, mas é comum se tornar permanente. Além de trazer transtornos como entupimentos e transbordamentos, a fossa contamina o lençol freático, o que prejudica todo mundo”. De acordo com o Ministério da Saúde, saneamento básico para a promoção da saúde inclui, fornecimento contínuo de água de boa qualidade; coleta regular de lixo, com destinação dos dejetos; drenagem de água das chuvas e esgotamento sanitário.

Apenas com essa infraestrutura seria possível reduzir a incidência de doenças como diarréias, febre amarela, cólera, dengue, teníase, salmonelose, toxoplasmose, hepatites e conjuntivites.

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