O ex-chefe do jogo do bicho em Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro, o “comendador”, acusado de ser o mandante do assassinato do empresário Domingos Sávio Brandão (que era dono da Folha do Estado), em 30 de setembro de 2002, no bairro Consil, em Cuiabá. O júri popular é presidido pelo juiz Marcos Faleiros da Silva. Vestindo uma camisa azul e usando óculos de grau, Arcanjo aparenta ter perdido peso. Ele sentou no banco dos réus e ouviu o início do julgamento, com chamada nominal dos jurados e leitura do advogado de defesa, Zaid Arbid.
O senador Pedro Taques, que foi procurador da República em Mato Grosso, em 2001, quando Arcanjo foi preso, e recebeu um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que apontava João Arcanjo Ribeiro como chefe de uma organização criminoso no Estado. Disse também que eviou o relatório à Receita Federal, que começou a investigar o acusado. Taques disse que ouviu o depoimento de Hércules Araújo, no Gaeco, depois que ele foi preso em Machadinho D´Oeste (RO). Segundo o senador, Hércules teria confessado que Arcanjo teve participação na morte de Sávio Brandão. Disse ainda que o pistoleiro é um cidadão frio. O senador afirmou que o empresário foi o último assassinado em uma série de crimes que ocorreram em Cuiabá na época. Explicou que não investigava a morte de Sávio, mas que trocava informações com o Ministério Público Estadual sobre os crimes, pois era procurador da República.
Pedro Taques declarou que Hércules foi preso pela morte de Sávio, e depois decidiu falar sobre os crimes. Isso, depois que foi recapturado, pois havia fugido. Quando falou, Hércules incriminou Arcanjo e alegou que a proposta inicial era matar Sávio no Rio de Janeiro. Porém, ele não aceitou e o crime ocorreu em Cuiabá. O advogado de defesa Zaid Arbid fez algumas perguntas a Taques, que respondeu, encerrando sua participação no julgamento.
A sessão tá teve bate boca entre o advogado Arbid e o assistente de acusação, advogado Clóvis Sahione. O microfone precisou ser cortado e juiz teve que intervir. Após pedir a Sahione que interponha questão de ordem ao invés de discutir com Zaid, ele disse ao advogado de Arcanjo para ser mais objetivo nas perguntas.
O delegado Luciano Inácio da Silva foi o primeiro a depor, ouvido na condição de informante, sem compromisso de prestar juramento. O delegado depôs e, antes de responder a primeira pergunta, pediu a a leitura do relatório da investigação do homicídio. Foi ele quem, durante os trabalhos policiais, chegou ao nome de Arcanjo como mandante do crime. O delegado disse que estava investigando os executores do crimes, Celio Alves e Hercules Araújo (ex-policiais).
O delegado afirma que esteve no local do crime, após ser acionado por uma funcionária do jornal de propriedade de Sávio. “Como chefe do GCCO eu investigava a morte do sargento Jesus”. Durante as investigações, já tínhamos pedido as prisões de Célio e Hércules pela morte do sargento e notamos semelhanças entre vários crimes. “No caso da morte do Rivelino e na execução do Sávio, vimos que o veículo usado nos dois crimes era o mesmo, além da características”.
O delegado afirma que ouviu de testemunhas que Nilson Teixeira, diretor das factorings de Arcanjo, foi ao jornal e se reuniu com duas pessoas para pedir que o jornal parasse de fazer matérias sobre Arcanjo. “O próprio Ronaldo, sogro de Sávio, confirmou isso. Essas matérias atraíram a atenção do MPF sobre um empreendimento do JAR, uma hidrelétrica. Isso acabou fazendo com que a obra fosse parada na Justiça. Tínhamos por um lado os executores e por outro uma pessoa extremamente descontente com a vítima. Arcanjo foi denunciado por indícios”.
O advogado de Arcanjo questionou o delegado por que demorou 9 meses para concluir o inquérito. Ele respondeu que foi por conta do cuidado durante as investigações. Zaid também questionou sobre supostas ameaças a Savio Brandão “por madeireiras” acusadas de irregularidades em investigações que foram noticiadas pelo jornal. O delegado Luciano retrucou dizendo que empresas não ameaçam e pediu que Zaid desse nomes.
O advogado também perguntou ao delegado se tinha investigado a viúva, Izabella Brandão, teria tramado a morte de Savio e o delegado Luciano Inacio nega. “O depoimento era irrelevante, porque já tínhamos provas cabais”, apontou.
Luciano depôs até às 11:37h, quando foi anunciado breve intervalo.
No início da sessão, o advogado de arcanjo tentou cancelar o julgamento, afirmando que duas testemunhas, Maria Luiza Clementino de Souza e Ronaldo Neves Costa, pai da viúva de Sávio Brandão, Izabella Corrêa Costa Brandão Lima, não foram arroladas. Porém, o juiz deu prosseguimento.
Antes da primeira testemunha ser ouvida, o advogado de defesa de João Arcanjo Ribeiro disse que o senador Pedro Taques (PDT) -que na época era procurador da República e investigou Arcanjo- nada pode acrescentar sobre o crime contra Sávio e perguntou porque Taques não foi arrolado anteriormente.
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(Atualizada às 15h11)