A venda de moradias do programa Minha Casa, Minha Vida é tão comum que proprietários anunciam na internet a comercialização dos imóveis, indicando o preço, descrição e endereço. O valor varia entre R$ 20 mil e R$ 50 mil, em um mesmo bairro. Essas casas são construídas e destinadas a famílias de baixa renda que viviam em situação de vulnerabilidade social. As prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande pediram aos Ministérios Públicos do Estado e Federal apoio na investigação da prática criminosa de vender, comprar, alugar e invadir casas do programa.
No site de vendas, a oferta destaca que trata-se de um imóvel na avenida principal do Residencial Nova Canaã, com 2 quartos, cozinha, banheiro, quintal grande, murada dos lados e nos fundos. A 2º etapa do Nova Canaã foi entregue em novembro de 2011, com parcelas que variam entre R$ 50 e 160, de acordo com a renda.
Pelo telefone, o proprietário avisa que cobra R$ 50 mil pelo "ágio" do imóvel que já é financiado e não pode ser transferido para o nome do comprador.
Identificado como Ulisses, o dono da casa comenta que o negócio não oferece risco, explicando que o trâmite é feito por meio de contrato de gaveta. Após 10 anos, quando encerra o financiamento, a transferência do imóvel é efetivada. "Lá na rua não tem mais ninguém que ganhou casa, todo mundo vendeu. Minha esposa quer passar para frente porque vamos embora. Se precisar, a gente compra outra".
Em março, um imóvel no mesmo bairro foi oferecido para a dona de casa Maria por R$ 20 mil. Ela relata que o dono do imóvel tinha vários filhos e ainda assim queria vender a moradia. O negócio não foi concluído porque um familiar de Maria não deixou. "Ele conhecia uma amiga minha que morava no bairro, mas minha filha não concordou com a venda por se tratar de algo ilegal. Parece que ele não vendeu, não tive mais notícia".
No Residencial Buritis também há casas à venda, mas o assunto é velado e ninguém gosta de falar. Em uma das ruas, uma moradora orientou a procura da mercearia do residencial, onde geralmente há informações sobre vendas e aluguéis das casas. No comércio, o proprietário disse que não sabia de nada, mas acabou indicando o endereço de uma possível casa à venda. O imóvel estava fechado.
Casas desocupadas são apontadas por vários moradores. Em uma das situações, uma criança acompanhada da avó mostrou casas vazias e uma que havia acabado de ser comprada. A idosa tentou desmentir e saiu puxando a menina para longe da reportagem.