Cerca de 4 mil mato-grossenses se preparam para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento católico que será celebrado do dia 23 ao dia 28 de julho, no Rio de Janeiro (RJ). A presença do papa argentino Francisco é o que mais motiva jovens e padres a participarem do evento, que acontece pela 1ª vez no Brasil e estima-se que reunirá 2,5 milhões de pessoas, inclusive de outros países. Os fiéis esperam um momento de renovação e esperança com a chegada do novo papa, lembrado pelo carisma e empatia que tem com povo latino- americano.
De ônibus ou avião, os jovens católicos enfrentarão a distância e desgaste de viagens longas até o Sudeste para participar da JMJ, encontro que superará em público os maiores eventos mundiais esportivos. Serão 29 horas de viagem para o grupo de Nobres e Rosário Oeste, por exemplo, que partirá da Capital às 14h do próximo domingo (21), após participarem da Pré-Jornada. Na data haverá uma caminhada de 7 quilômetros da Catedral de Cuiabá até o Memorial João Paulo II, na região Morada do Ouro. A expectativa é reunir 21 mil pessoas.
"A expectativa da Jornada é sempre um reavivamento, do rosto da Igreja nos jovens naquilo que São Paulo pregou", diz o padre Ernildo Batista Ramos, que coordena a viagem dos 85 jovens de Nobres e Rosário. Na JMJ, que ocorreu em 2011 na Espanha, Ernildo esteve presente e trouxe a esperança que é cultivada pelos fieis.
Na trajetória de 2 mil quilômetros à capital carioca, alguns pais de jovens irão junto para ajudar a orientar o grupo na locomoção das atividades do evento. Jovens, adultos e seminaristas estão nos preparativos há mais de 1 ano, fazendo orçamento e planejando inscrições.
Da diocese de Diamantino (208 km ao médio-norte da Capital) 242 pessoas irão partir paraaJMJ. Os R$250 mil de custo, envolvendo acomodação, alimentação, transporte e inscrição, foram arrecadados com recursos dos jovens e de promoções como rifas e festas. O jovem padre Luciano Braga Simplício, 26, diz que os esforços estão concentrados há tempo e o processo envolve oração e reflexão sobre os valores da Igreja.
Grupo de Oração Jovens Sarados de Cuiabá, uma ramificação nacional da Canção Nova, chegará ao Rio de Janeiro tendo a visão de cima do Cristo Redentor. O valor de R$ 1,6 mil por pessoa envolve projetos próprios de negócio para que a viagem seja realizada. Os estudantes Donaldo Gomes Bezerra Filho, 24, Gleyce de Figueiredo Guimarães, 21, a professora Dayane Santos da Silva, 24, e o educador físico Nelson Augusto da Silva Júnior, 27, contam ter montando uma barraca de pastel para ajudar no custeio.
Até este final de semana o negócio fica aberto no pátio do Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho, em Cuiabá. O faturamento ajudará na compra de lembranças de Mato Grosso, como botons, artesanato, camisetas e bonés, que o grupo de 37 pessoas irá levar para trocar com os jovens estrangeiros. "Esse fervor e ardor da juventude são reascendidos pela atitude do novo papa", diz Nelson, que compartilha os elogios dos fieis com o argentino.
Em visita ao Santuário com turistas de Goiânia, o administrador de Cuiabá Gledson Fleury, 55, defendeu a renovação do Cristianismo e o envolvimento da juventude. "Eu acho excelente essa mudança da Igreja. Em relação aos processos de escândalos sexuais, corrupção, isso vem resgatar os valores".
Padre da diocese da Capital, Kleberson Paes acredita neste processo de transformação. As recentes manifestações populares no país, engrossadas pela juventude, demonstram o momento. Ele espera que a violência ceda lugar à concórdia e valorização da vida. "É um convite do nosso senhor Jesus Cristo e do papa para que eles sejam discípulos".
A vigília de 24 horas no dia 27 de julho com a presença do papa e um público esperado de 2,5 milhões de pessoas é um dos momentos mais aguardados da JMJ. No palco onde estará o papa Francisco e cardeais, fieis representantes de dioceses do país também irão estar juntos e próximos do ícone.
De Mato Grosso, 11 jovens foram selecionados, sendo 2 de Cuiabá, a jovem Fernanda Ortiz e o seminarista Lucivan Andrade. Chegar próximo do papa é uma experiência registrada com detalhes pelo arcebispo de Cuiabá Dom Milton Antônio dos Santos. Quando recebeu a insígnia do ex-papa João Paulo II, ele recorda os efeitos do Mal de Parkinson apresentados pelas mãos e o humor discreto dele. Ao falar ao papa que ele era de Cuiabá, João Paulo II balbuciou com dificuldade, "calor".
O papa remeteu à característica da cidade em que esteve em 1981, em uma passagem pelo país. Dom Milton estará na JMJ concedendo palestras na catequese e acompanhado 36 seminaristas, que estão em estudo para o sacerdócio na Capital. Em um horário da programação ele estará reunido, entre outros, bispos e cardeais do Brasil, com Francisco, um papa da história que mais está próximo da realidade e cultura do país. "A maneira de falar do papa é muito próxima do povo. Diferente do europeu, ele cativa muito e é um momento de muita esperança".
De Goiânia, o bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia Pedro Casaldáliga, 85, acompanha os preparativos para a chegada do papa. Padre Paulo Santos, que o acompanha no tratamento de saúde há 3 anos, diz que diariamente Pedro lê notícias e está atento a tudo com lucidez. Sobre o novo papa, ele diz "ainda é cedo para saber as mudanças que propõe (na Igreja), mas ele (Pedro) está animado e alegre". A simplicidade é a maior característica destacada pelo bispo.