A escolha do cardeal argentino Jorge Bergoglio, Francisco I, para assumir o posto mais alto da hierarquia católica deverá levar o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, a assumir cargo de destaque na Cúria Romana e a trocar São Paulo pelo Vaticano. Nesta quarta-feira, antes mesmo da escolha, amigos e familiares do cardeal brasileiro já falam da possibilidade dele permanecer em Roma após o Conclave do Vaticano, onde integra departamentos da Cúria Romana, como a Pontifícia Comissão para a América Latina e o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Com um Sumo Pontífice da América do Sul, a chance dele mudar-se para o Vaticano, na avaliação de pessoas próximas, tornou-se “praticamente certa”. O pároco da Catedral de Toledo, Inácio Scherer, primo do arcebispo de São Paulo, acredita que o cardeal brasileiro deverá deixar o país já em 2013.
Se Francisco tiver observado com atenção as discussões durante os encontros, ele já tomará decisões sobre o futuro pontificado, já que a Santa Sé precisa de pessoas de confiança. Eu tenho quase certeza de que ele não vai ficar mais que um ano no Brasil e será convidado para um trabalho no Vaticano – afirmou.
O arcebispo de Maringá (PR), Dom Anuar Battisti, também bispo em Toledo, tem opinião semelhante. Para ele, é natural que Francisco I componha uma equipe com a presença de cardeais da América Latina, entre eles o arcebispo de São Paulo. Na avaliação dele, se não imediatamente, mais cedo ou mais tarde o caminho de Dom Odilo Scherer “será em Roma, e não mais em São Paulo”. O religioso não considerou que a polarização feita pela imprensa internacional entre Odilo Scherer e Angelo Scola tenha prejudicado a candidatura do cardeal brasileiro e confessou que se surpreendeu com a escolha de Jorge Bergoglio. Para ele, o nome Francisco I não poderia ser melhor para o argentino.
– O nome Francisco I não poderia ser melhor: é o retrato dele. Ele é um homem simples, desapegado, humilde e sem protocolos. É um homem que viveu no meio do povo e o conhece bem – disse.
A fumaça branca nem bem havia coberto os céus do Vaticano quando os sinos da Catedral de Toledo começaram a ressoar. O aviso levou os pedestres da cidade onde viveu Dom Odilo Scherer a buscarem às pressas por uma televisão em restaurantes e bares. A expectativa de que o cardeal brasileiro fosse o nome anunciado era grande. Na casa da família do arcebispo de São Paulo, o clima era de tensão. O professor Flávio Scherer, irmão do cardeal brasileiro, não escondia o nervosismo. Com o anúncio, ele admitiu surpresa.
– Não esperava e não estava nas expectativas, sobretudo pela idade. Ele foi eleito com 76 anos, quase a mesma idade do Papa Bento XVI. As previsões iniciais eram de um nome mais jovem. De qualquer forma, com um nome argentino, a Igreja Católica do Brasil receberá mais atenção – afirmou.
Nas ruas de Toledo, os fieis confessaram desapontamento. Para o motorista Valmir Correli, de 62 anos, a cidade, que torcia pelo seu ilustre morador, sai um pouco frustrada com o resultado. A dona de casa Adriana Saladini, de 43 anos, reconhece que havia muita esperança pela eleição do cardeal brasileiro e brincou com a rivalidade entre Brasil e Argentina.
– Nós esperávamos que fosse o Dom Odilo Scherer. Isso nos frustrou um pouco, principalmente pelo fato do novo papa ser argentino – afirmou.