A utilização da genética forense para as investigações criminais tem sido uma das ferramentas mais recorrentes para a identificação de vítimas de desastres, quando os métodos primários são insuficientes. São os casos em que a identificação humana não é possível de se realizar por meio de impressões digitais (colhidas por papiloscopistas) ou pela arcada dentária (realizadas por odontolegistas).
De julho a agosto deste ano, oito vítimas de acidentes que tiveram os corpos carbonizados foram identificadas no Laboratório Forense de Cuiabá. Contando com recursos avançados de identificação, o local realiza exames nas áreas química e biológica, a exemplo da identificação de entorpecentes e psicotrópicos, sangue humano, pesquisa de espermatozoide, identificação de pesticidas e pesquisa de metais.
No local, é possível que se faça a extração do material genético da vítima para posterior comparação com a amostra de possíveis descendentes. De acordo com a bióloga especialista em Genética Forense, Perita Oficial Criminal, Ana Cristina Lepinsk Romio, o avanço das tecnologias em favor da realização de perícias tem trazido mais agilidade, economia e segurança nos procedimentos.
Um exemplo disso é a inclusão de Mato Grosso na Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, que permite a sincronização de bancos de dados estaduais aos nacionais por meio do Programa CODIS (Combined DNA Index System). A integração do banco de dados genético permite ainda a comparação de material genético de condenados por crimes hediondos, que tenham feito vítimas em outros estados ou países.
“É uma ferramenta que realiza a comparação dos perfis genéticos entre os vestígios encontrados em local de crime com o material armazenado no Sistema. Uma nova atualização foi lançada pelo FBI que vai unir todas as informações a fim de ampliar os campos de buscas, inclusive de pessoas desaparecidas’’, apontou.
O Software foi desenvolvido na década de 1990 pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) norte-americano e disponibilizado gratuitamente aos governos e países interessados em utilizá-los na área de segurança pública.
Em sua terceira atualização desde 2012, o Programa reúne informações genéticas de condenados por crimes hediondos, permite a identificação de vestígios de crimes e de vítimas de desastres em massa.
Atualmente, cerca de três mil amostras de DNA custodiadas pela Perícia Oficial e Identificação Técnica de Mato Grosso, que serão armazenadas no CODIS, e futuramente poderão ser comparados ao banco de dados nacional. Além de Mato Grosso, outros 17 estados brasileiros aderiram à Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), utilizando-se da tecnologia disponível para resolver os casos criminais e contribuindo para a redução da impunidade.
A geneticista forense afirma que apesar do auxílio da tecnologia, uma das principais dificuldades encontradas é ter acesso às amostras de referência e/ou comparação. “Apesar de dispormos de todos os equipamentos de ponta e referência, muitas vezes a carga genética de uma amostra não é o suficiente, principalmente em casos de calcinação de vítimas onde não há qualquer vestígio biológico para ser analisado’’, acrescentou.
A expectativa é que com a alimentação do Sistema com maior número de informações genéticas, haja maiores chances de identificação de criminosos seriais que tenham feito vítimas em outros estados e que a ciência e a tecnologia estejam cada vez mais aliadas às investigações e a Justiça Criminal.