A mensagem 63/2014 encaminhada pelo prefeito Mauro Mendes à Câmara de Vereadores especificou a malha viária da zona rural de Cuiabá em 377,10 quilômetros de vias não pavimentadas. Todos os 141 municípios terão que fazer o mesmo, com vistas a receber 50% dos recursos do Fundo de Transportes e Habitação (Fethab) destinados aos municípios, que deverão ser utilizados exclusivamente para a pavimentação das estradas vicinais. Contudo, isso não significa que todos os municípios vão conseguir por fim em um dos maiores problemas de quem mora longe do barulho da cidade: redução do tempo de trajeto e qualidade para locomoção.
Embora a pavimentação das principais estradas vicinais seja um sonho acalentado nos distritos e comunidades rurais de Cuiabá, o prefeito Mauro Mendes reconheceu que dificilmente essa malha viária será toda pavimentada. Com um custo médio de um milhão de reais por quilômetro, o município precisaria de R$ 377 milhões para dar conta do problema. “Não temos dinheiro para isso. Os recursos do Fethab, que ainda não foram definidos, devem ficar na ordem de R$ 3 milhões por ano, isso significa 3 km. Desse jeito, vamos levar uns 50 anos para pavimentar tudo”, comentou o prefeito.
Esses recursos serão utilizados para a manutenção das estradas vicinais e como contrapartida para programas habitacionais, mas a prefeitura ainda não tem uma definição dos primeiros distritos ou localidades que possam ter acesso à pavimentação no próximo ano. “A nossa maior prioridade é a zona urbana, os grandes bairros onde as pessoas vivem e moram. No caso da zona rural temos que fazer análise da demanda existente para a correta aplicação do recurso”.
A partir de 1º de janeiro de 2015, o Estado vai repassar aos 141 municípios 50% dos recursos arrecadados com o Fethab. Em 2013, o Estado arrecadou cerca de R$ 671 milhões. Contudo, a divisão da metade do recurso arrecadado este ano para os 141 municípios não será igualitária. Vai receber mais quem tiver a maior malha viária não pavimentada, dentre outros critérios estabelecidos em lei.
Estrada asfaltada pode representar menos tempo no trajeto de ida e volta à escola para centenas de crianças que dependem do transporte escolar para sair dos sítios para estudar das 12h30 às 16h30.
De segunda a sexta-feira, Diego Pires de Pinto, 14, estudante do 6º ano da Escola Municipal Rural de Educação Básica Udiney Gonçalves de Amorim, no Distrito do Aguaçu, religiosamente pega uma Kombi às 11h para ir até o local onde está o ônibus escolar e em uma hora e meia ele chega ao destino. “É muito cansativo, no trajeto entra muita poeira dentro do ônibus, mas não sinto nenhuma vontade de parar. Sou o único do assentamento que estuda à tarde, não vou desistir”, diz o menino.
Para voltar, mais uma hora e meia e por volta das 18h, Diego está de volta ao assentamento Laranjeiras, que fica cerca de 30 km de estrada de chão da escola. Nem sempre o menino tem tempo de almoçar. Pensando em crianças como ele, a escola oferece uma merenda escolar reforçada. No cardápio de quarta-feira (23) foi servido arroz com galinha, feijão e batata doce.
Coordenadora da escola, Laura Nice Moraes Silva conta que a maior parte dos professores mora na Capital e todos os dias vão e voltam da zona urbana para a rural. “Moro próximo à fábrica da Ambev. O pior não é a distância, pois nem acho tão grande. O problema é falta de asfalto que acaba com o carro”.
A situação melhorou de pouco mais de um ano para cá com a instalação da fábrica da Votorantim na região, em abril de 2013. Nos 18 km de acesso da rodovia Hélder Cândia (MT-010) até o trevo de acesso à fábrica, a empresa asfaltou o trecho com recursos próprios. Os outros 10 km para chegar até o distrito ainda estão sob a poeira.
Nascido e criado na comunidade do Machado, o aposentado Francisco de Almeida, 80, conta que todos os dias um caminhão da mineradora molha a estrada não pavimentada para evitar mais transtornos causados pela poeira do transporte dos caminhões da empresa. “Se eles (poder público) fizerem mesmo essa estrada e continuar essa obra vai ser muito bom para nós e para os estudantes que precisam do transporte escolar”.