As passagens aéreas apresentaram recuo nos preços, contrariando a expectativa de consumidores e de alguns analistas de que o item pressionaria a inflação no meio deste ano em função da Copa do Mundo. A queda na demanda por viagens de negócios, a compra antecipada das passagens por parte de consumidores e a própria desaceleração na economia contribuíram para que as tarifas ficassem mais baratas. No acumulado do ano até maio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) observou queda de 34,54% nos preços das passagens aéreas. Só no mês passado, o recuo foi de 21,11%, ajudando na desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
“Chama a atenção. Podemos até achar que não era (para estar caindo), mas foi isso que foi medido”, observa a coordenadora de Índice de Preços do órgão, Eulina Nunes dos Santos, na apresentação dos resultados do IPCA de maio. No início de 2014, havia o receio de que as passagens aéreas pesassem no bolso de quem quisesse viajar no período da Copa do Mundo. “As pessoas não estavam acreditando muito que isso (queda nos preços) iria acontecer, mas quem conhece o setor já previa”, afirma o economista Cleveland Prates, sócio-diretor da Pezco Microanalysis.
Para Prates, o aumento na demanda de turistas foi compensado pela redução no fluxo de viagens de negócios. Os consumidores, por sua vez, procuraram garantir seus bilhetes com antecedência. “Além disso, não são muitas pessoas que viajam. Na Copa das Confederações, 70% dos torcedores viviam em lugares distantes até 200 km do local dos jogos”, afirma Prates. Em pesquisa recente, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apurou que 74,4% dos brasileiros não viajariam durante a Copa, e apenas 8,4% recorreriam ao transporte aéreo.
Como garantia de que não haveria cobranças abusivas, algumas companhias chegaram a anunciar o estabelecimento de um teto tarifário. Azul e Avianca informaram que nenhum bilhete custaria mais de R$ 999 durante o evento. A Azul atribui a essa medida à queda nos preços. “Essas tarifas são válidas para todos os voos da empresa, considerando origem e destino, independente do número de trechos”, afirmou por meio de assessoria. A empresa não forneceu nenhum balanço dos preços médios efetivamente cobrados no período na Copa.
Gol e TAM declararam em nota que a política tarifária não sofreu alterações especiais por causa da Mundial. Segundo elas, foram seguidos os mesmos parâmetros de precificação utilizados em períodos de alta demanda. “Até o momento, 60% das nossas passagens aéreas domésticas comercializadas para o período (da Copa) foram vendidas por preços abaixo de R$ 200”, informou a TAM. A companhia afirma ter remanejado a malha aérea para atender à alta concentração de procura por rotas que incluem as cidades-sede.
Segundo a Gol, possíveis picos de demanda por parte de torcedores serão compensados pela diminuição da procura por passageiros corporativos. Além disso, quem comprou com antecedência conseguiu garantir preços mais em conta. “Com isso, 85% das passagens podem custar até R$ 499, levando-se em conta a proximidade da data da viagem”, disse a Gol, em nota. A Avianca não retornou ao pedido da reportagem até o fechamento.