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Cuiabá: trincheira Santa Rosa não ficará pronta e há riscos de acidente

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A trincheira Santa Rosa, na avenida Miguel Sutil, não estará concluída até a Copa do Mundo e com a intenção da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa), em liberar as pistas marginais, garantindo o acesso das delegações e dos dirigentes à Arena Pantanal, há um risco de que as três adutoras de água bruta, remanejadas por conta da obra, se rompam, a exemplo do que ocorreu, em julho do ano passado, na cidade do Rio de Janeiro, colocando em risco motoristas, pedestres e moradores do entorno da construção. A informação faz parte de uma série de documentos que teriam sido apresentados em reuniões com diversos órgãos públicos de controle. Para entender a real situação da obra, iniciada em 2012, dois engenheiros foram ouvidos e, sob condição de anonimato, explicaram cada detalhe da intervenção.

O remanejamento das adutoras foi iniciado em meados de 2013, após a assinatura de um convênio entre a Secopa e a CAB Cuiabá, concessionária dos serviços de água e esgoto da capital. As três adutoras levam água bruta para as Estações de Tratamento (ETAs) Ribeirão do Lipa e São Sebastião, responsáveis pelo atendimento de 60% da população. O remanejamento, motivado pela escavação da trincheira, criou um “U” no trajeto das adutoras, contornando a trincheira. A nova rede foi concluída em novembro do ano passado.

De acordo com um dos engenheiros, pelo menos 2 problemas surgiram neste momento da intervenção, a existência de tirantes, vigas horizontais para garantir a sustentação do muro construído, e o rebaixamento da cota de pavimento onde passarão as pistas laterais da trincheira. Afirmação da CAB em uma das cartas alega que os serviços de implantação da trincheira foram iniciados sem a existência dos projetos executivos para remoção das interferências, fato que impossibilitou a compatibilização de todas as etapas de planejamento. “Isso é como você construir uma casa começando pelo telhado. Dificilmente dá certo”, afirma o profissional.

Com a colocação dos tirantes e o rebaixamento do pavimento em cerca de 80 centímetros, a CAB instalou a adutora, segundo ela, no único lugar possível, impossibilitando a cobertura mínima necessária para garantir a proteção dos canos. “O tráfego de veículos pode, de alguma forma, causar a movimentação destas adutoras e ocasionar a ruptura delas”. Um acidente deste tipo, explica o engenheiro, poderia atingir grandes proporções. Uma estimativa, não confirmada pela concessionária, aponta que a pressão exercida no local é de aproximadamente 40 metros de coluna d’água. Isso significa que, sem a canalização, a água atingiria aproximadamente 40 metros de altura, além de infiltrar em toda a região, podendo causar deslizamentos de terra e provocar o desmoronamento de edificações próximas ao local.

A gravidade da situação é citada pela CAB no mesmo documento encaminhado à Secopa. “Esta concessionária reitera que a mesma [Secopa] deve adotar medidas para a liberação de todas as vias, evitando o tráfego pesado nas vias laterais. Já foi apresentado anteriormente que, por medida de segurança, é prudente não haver a liberação da via lateral ao tráfego de veículos pesados, sem que esteja estabilizada a totalidade da cortina atirantada, uma vez que a instabilidade do solo coloca em risco a trincheira e as adutoras implantadas”.

Proteção – uma das soluções apresentadas para o problema é a alteração na metodologia de proteção das adutoras, antes da conclusão da cota de pavimento. O trabalho incluiria a preparação de uma laje de concreto especial, conhecida como radier, “envelopando” as 3 adutoras. No entanto, a medida só poderia ser tomada após a conclusão dos muros atirantados e da drenagem, dando estabilidade à obra. A atual situação da drenagem da obra causou a saturação, ou alagamento, do solo. “Qualquer profissional sabe que uma obra deste tipo não pode ser feita com o solo encharcado, como mostram as fotos tiradas do local”, destaca um dos engenheiros.

Esta informação teria sido passada, inclusive, pela CAB Cuiabá ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), que cobrou celeridade das obras. A reunião, que teria contado com a presença de representantes da Secopa, não foi confirmada pela assessoria do TCE.

Deslizamentos – em um dos documentos, a Secopa afirma que a compactação inadequada do solo ao redor das adutoras teria provocado uma série de deslizamentos no entorno da trincheira. Entre os documentos, a reportagem localizou um relatório técnico, assinado por 2 engenheiros, que afirma que os deslizamentos ocorreram pelo tipo de solo encontrado na trincheira, o filito. Este é um solo que resiste bem à compressão e dá boa sustentação para obras de estrutura, desde que confinado. “Pelo que se mostra no relatório, o ângulo das placas é desfavorável ao corte para a trincheira, então ocorreram estas movimentações”.

Para o engenheiro ouvido, o fato é mais uma prova de que apenas com a conclusão do muro e da drenagem será possível proteger as adutoras e, aí sim, concluir e inaugurar a obra.

Outro lado – Por meio de nota, a Secopa, contratante da empresa executora da obra da Trincheira Santa Rosa, afirma que sempre respeitou as normativas técnicas de segurança nas obras em desenvolvimento e que jamais tomaria qualquer medida que coloque em risco a vida da população, seguindo um trabalho que visa melhorar a qualidade de ir e vir dos cidadãos. A reportagem também procurou a CAB Cuiabá, que disse que não iria se pronunciar sobre a situação.

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