Vilma Ester Nogueira dos Santos, 86 anos, nunca entrou em uma unidade penitenciária, sempre achou que lugar de “bandido” era na prisão e que de lá eles deveriam sair “direto pro cemitério”. “A gente sempre ouviu falar que 'bandido' tinha que ser preso e que, se fizesse coisa muito errada, tinha mais é que morrer mesmo”. Contudo, a percepção do tratamento dado a cidadãos privados de liberdade mudou quando um de seus sobrinhos foi preso.
“Com 23 anos meu sobrinho mais querido foi preso, envolvimento com droga, e eu demorei a aceitar, foi muito duro”. Após cumprir pena na Cadeia Pública de Cáceres, o parente de Vilma, que preferiu não se identificar, conseguiu uma colocação no mercado. “Nem em meus sonhos eu imaginava que uma pessoa podia ser 'restaurada', foi uma maravilha o que os governantes fizeram pelo meu sobrinho que eu cuido como filho, não tem preço”.
O processo de reinserção social pelo qual muitos recuperandos passam mudou a vida de diversas famílias, e para melhor. O piloto Marialdo Gomes, preso por tráfico de drogas, conseguiu o benefício por apresentar bom comportamento. “Trabalhei na área de serviços gerais num empresa de coleta de lixo aqui de Cáceres e me dediquei tanto que fui promovido ao cargo de gerente”. Ter esta oportunidade, diz Marialdo, faz com que acredite que o governo se importa sim com pessoas como ele. “Não é ninguém dizendo pra mim que algo vai acontecer, já está acontecendo. O orgulho de meus familiares, que me veem lutando para mudar meu destino, transformou a vida de todos, pra melhor”.
Resultados como este vêm do trabalho realizado pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso (Sejudh-MT), por meio da Fundação Nova Chance (Funac), órgão responsável por reinserir na sociedade cidadãos que cumprem pena judicial. “Buscamos proporcionar educação e qualificação aos recuperandos, principalmente por meio de parcerias com instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Conselhos da Comunidade, empresas privadas, Poder Judiciário, prefeituras e todos que quiserem contribuir para ajudar estas pessoas e suas famílias”, explica a presidente da Funac, Cintia Nara Selhorst.
O titular da Sejudh, Márcio Frederico de Oliveira Dorilêo, destaca que o Governo do Estado tem se esforçado para promover o crescimento cultural dos assistidos; inseri-los no mercado de trabalho, já qualificados; e dar assistência familiar aos detentos. “É importante conceder direitos aos presos, como o trabalho e o estudo. O papel do trabalho no processo de (re) inserção social, como ocupação da mente, é um benefício para a saúde física e mental do recuperando, cumprindo com a função de ocupar seus pensamentos de forma a não ficar centrado na pena”.
A oportunidade de trabalho dada pelo Estado ao recuperando também é compreendida como um produtor de vínculos, auxiliando o detento nas suas relações sociais. “Meu sobrinho começou a trabalhar e as pessoas de lá viram que ele queria mudar e deram chance. Hoje ele tá recuperado sim e isso fez eu mudar o jeito que eu via essas pessoas”, conta Vilma dos Santos, que completa, "lá na igreja todo mundo agora acredita que essas pessoas que desviam do caminho podem voltar a ser gente como todo mundo aqui fora".
“O trabalho como uma prática que promove integração e legitima socialmente os indivíduos, favorecendo o reconhecimento nas diferentes classes sociais, grupos e comunidade, entendendo a oportunidade de voltar a trabalhar como forma de ampliar as possibilidades da inserção social e melhorar níveis de saúde. É este o trabalho que procuramos fazer aqui na Sejudh”, defende o secretário adjunto de Justiça, Luiz Fabrício Vieira neto, que responde interinamente pela Secretaria Adjunta de Administração Penitenciária (Saap).