Um escorpião africano foi resgatado pela equipe da Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema) após os funcionários submeterem uma das caixas que vinha de São Paulo, com destino a Sinop, a um aparelho de raios-x. Ao perceber que havia um animal vivo como conteúdo do pacote, imediatamente a polícia foi acionada para fazer o resgate. O bicho permaneceu sob os cuidados da Coordenadoria de Fauna da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) até sexta-feira (25). De janeiro a setembro, os Correios já denunciaram o transporte irregular de outros animais exóticos: uma cobra corn snake (cobra do milho), original dos Estados Unidos, uma jiboia e uma iguana. Apesar de difícil constatação, esses casos demonstram a ocorrência de tráfico interestadual de animais silvestres em Mato Grosso.
Segundo o coordenador de Fauna e Recursos Pesqueiros, Marcos Ferramosca, o mais recente caso é o do escorpião, que aconteceu há uma semana. Assim que o animal chegou à Sema, no mesmo dia os técnicos construíram de modo improvisado um terrário, com pedaços de madeira, galhos, areia e pedras, simulando o ambiente natural. Como aparentemente estava bem alimentado, ele recusou alimentação à base de insetos. “Nossas pesquisas identificaram que é um escorpião hadogenes, que em outros países é adotado como PET, ou seja, animal de estimação, por ser menos agressivo e não ter veneno mortal.”
O biólogo e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Everton Miranda, que trabalha com animais predadores, levou o escorpião que tem 12 centímetros, dos quais, metade de cauda. A proposta é realizar pesquisas. No termo de adoção, ele se compromete em manter o animal o mais confortável possível, já que o clima de Cuiabá é parecido com o da África.
De acordo com o delegado da Dema, Vitor Hugo Teixeira, todos os animais exóticos resgatados já foram doados, seguindo o artigo nº 134 do Decreto n° 6.510/2008, que prevê a doação de animais domésticos e exóticos da fauna silvestre para jardins zoológicos, fundações, centros de triagem, criadouros regulares ou entidades assemelhadas. Teixeira explica que embora seja um crime de tráfico interestadual de animais silvestres, como tem menor potencial ofensivo, cabe prisão de três meses a um ano, considerada uma pena leve, e multa. “Normalmente o juiz estipula o valor dependendo de cada caso, que é de difícil solução, já que os criminosos colocam endereços fictícios na encomenda dificultando o andamento da investigação. Em razão disso, ninguém até o momento foi autuado.”
Centro de triagem
O Batalhão de Polícia Militar de Proteção Ambiental (BPMPA), localizado em Várzea Grande, abriga atualmente 60 animais resgatados no Estado, a maioria é vitima de atropelamento na beira da estrada – durante a fuga de seu hábitat natural – ou foi encontrado convivendo ilegalmente na propriedade de alguém. De acordo com o gerente da Fauna da Sema, Ronoaldo Ferreira, alguns chegam machucados ou até com deficiência física, o que impossibilita a soltura deles na natureza.
Outra situação que impede a liberdade dos animais é o fato deles perderem a capacidade natural de viver sozinhos, devido o contato direto com o ser humano. “As pessoas pensam que estão fazendo o bem ao pegar um animal silvestre para criar. Além de ser crime, elas deixam o animal dependente do homem. E ao serem soltos eles vão estar fragilizados e podem entrar na cadeia alimentar como preza”. A Lei de Crimes Ambientais, criada em fevereiro de 1998, considera os animais, seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, propriedade do Estado, considerando que a compra, a venda, a criação ou qualquer outro negócio envolvendo animais silvestres é crime inafiançável.
Desde a saída do filhote de onça Dingo, em agosto deste ano, o batalhão já soltou cerca de 10 animais, dentre eles: uma cobra sucuri de 4 metros encontrada em um córrego de Várzea Grande. Nesta semana, a Sema recebeu também três antas, das quais dois filhotes de fêmea e um macho adulto. Os filhotes estavam sozinhos andando pelas ruas do município de Nova Mutum (a 239 km de Cuiabá), sem ferimentos. Já o adulto estava em uma fazenda no município de Santa Rita do Trivelato (287 km de Cuiabá) com a pata machucada. Recentemente a Sema também recebeu um macaco macho Buio, quatro araras e três papagaios, todos entregues por uma veterinária de Nova Mutum que cuida de animais atropelados.