As condições climáticas desfavoráveis em 80% dos municípios, com alta concentração de fumaça e prolongamento da estiagem, serão analisadas, nesta 4ª, pelos integrantes do Comitê do Fogo e poderão decidir por mais uma prorrogação do período proibitivo dequeimadas, que começou no dia 15 de julho, terminaria no dia 15 deste mês, mas já foi ampliado até o próximo dia 30.
Alguns municípios de Mato Grosso, como Feliz Natal (Nortão), ficaram mais de 100 dias sem chuva. Na capital, além da seca por mais de 50 dias, as temperaturas chegaram a 48ºC em agosto, e umidade relativa do ar abaixo de 9%, considerado estado de emergência pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Se a chuva não vier, temos que ter um planejamento emergencial e conta com o apoio da população para não queimar”.
O coordenador de Monitoramento da Qualidade Ambiental da Sema, o químico Sérgio Figueiredo, que monitora diariamente as condições do ar em Mato Grosso, explica que desde o dia 11 passado as condições atmosféricas mudaram, tornando-se desfavoráveis por três motivos: mudança na direção dos ventos, que formaram uma barreira para que a massa de ar com fumaça não se dispersasse, ausência ou escassez de chuvas e intensificação das queimadas. “Nós estamos com alta concentração de monóxido de carbono (CO) e material particulado (oriundo da fumaça), que provocam sérios riscos à saúde da população. Em Cuiabá, já tivemos inclusive a perda de visibilidade do horizonte, estamos a um passo do fenômeno smog”.
O Boletim da Vigilância da Qualidade do Ar da Sema, de hoje, aponta que pelo menos 80% dos municípios do Estado estão com a qualidade do ar inadequada, com limites de material particulado bem acima do nível permitido para seres humanos, que é até 25 microgramas (µg) por metro cúbico de ar (m³). Em Cuiabá, que sofre a influência das queimadas da região norte de Mato Grosso, já que os ventos têm trazido esse material até a Baixada Cuiabana, esse valor já atingiu 45 µg/ m³. Em Juína, Cáceres, Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra e Sorriso, os valores oscilam entre 60 e 45 µg/ m³, ou seja, até três vezes mais que o permitido.
Sérgio explica que é importante a conscientização da população quanto aos riscos das queimadas que podem intensificar o fenômeno climático que gera inúmeras doenças respiratórias, circulatórias e cardiovasculares. É que as emissões desse tipo fumaça contêm 94% de material particulado, que é um poluente com alta toxidade porque suas partículas finas e ultrafinas transpõem a barreira epitelial e atingem porções profundas do sistema respiratório, provocando inflamações mais profundas. É o tipo de partícula que o aparelho respiratório não consegue barrar e provoca pressão alta, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). “Nós tivemos um episódio agudo de poluição atmosférica em Cuiabá no ano de 2007, que se repetiu menos severamente em 2008 e 2010, que provou aumento considerável aumento nos gastos com saúde pública”.
Esse fenômeno de 2007 se chama ‘smog’ e é comum em grandes centros urbanos, como São Paulo. No caso de Mato Grosso, surgiu proveniente das queimadas e incêndios florestais (e não da poluição industrial) advindas da região da Amazônia. O termo resulta da junção das palavras da língua inglesa ‘smoke’ (fumaça) e ‘fog’ (nevoeiro). A situação se agrava no período noturno, segundo o especialista da Sema, porque é quando a temperatura se torna mais amena e os poluentes têm mais dificuldade em subir para a atmosfera.
A lei prevê que uso fogo para manejo do solo, entre 15 de julho a 30 de setembro, terá pena que pode variar entre seis meses e 4 anos de prisão, com autuações de R$ 7,5 mil (vegetação nativa) ou R$ 1 mil (pastagem e agricultura) por hectare queimado. Nas áreas urbanas as queimadas são proibidas o ano todo. As denúncias podem ser feitas no 193 do Corpo de Bombeiros ou diretamente nas secretarias municipais de Meio Ambiente.