Com déficit de 38.256 unidades habitacionais destinadas à população carente, Cuiabá conta com 12% deste público vivendo em casas improvisadas, classificadas como rústicas ou construídas em áreas de risco. Ao todo, são 4.666 moradias nessa situação, onde infraestrutura ou condições de dignidade não fazem parte do contexto.
Os números fazem parte de um levantamento da Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária da Capital, onde também constam que 7.608 imóveis destinados à baixa renda estão com projetos prontos, mas ainda não foram contratados por um impasse com a CAB Cuiabá, que não oferta rede de água e esgoto até os locais onde estão os terrenos destinados à construção desses residenciais. A quantia atenderia 19% da atual demanda. Além disso, outras 500 unidades estão prontas mas ainda não foram entregues por falta dos mesmos serviços. As casas fazem parte do conjunto habitacional Francisca Loureiro Borba.
Diretora técnica de Habitação da SMHARF, Hélida Costa e Silva frisa que o relatório faz parte da pesquisa realizada em toda cidade para o desenvolvimento de programas destinados a atender a população que precisa de moradia. Pontua ainda que a situação já foi mais grave e existe um esforço da gestão em mudar esse cenário que faz parte da realidade do aposentado Francisco Cardoso Filho, 67, que vive em um barraco de madeira no bairro Novo Paraíso, à beira de um barranco prestes a desabar.
O idoso está entre as quatro mil famílias que residem em área de risco e aguarda a chance de ter um espaço adequado para morar. Cego de um olho, Cardoso cuida de três netos entre 12 e 14 anos de idade. Os quatro dividem um pequeno barraco de madeira, com divisórias feitas com forro de PVC e com piso de chão batido. Para ele, a maior preocupação é com a possibilidade de desabamento do quintal, que pode afetar a casa. Para tentar evitar que isso ocorra, pede entulhos por onde vai para “aterrar” o buraco. Ele e os netos estão neste local há dois anos. Antes, residiam no mesmo bairro, porém um muro caiu em cima da antiga casa e atingiu a neta, o que fez com que trocasse de moradia. “Para mim, ter uma casa seria mais que ganhar na loteria. Só de pensar que não ia ficar preocupado com desabamento, já seria um sonho”.
Na mesma região, Creuziane Santos de Oliveira, 29, ocupa outro barraco juntamente com seis filhos. Conta que saiu “fugida” da zona rural com as crianças por medo do ex-marido. Morou um mês de aluguel e depois passou a ocupar a casa de três cômodos. “O dono deixa a gente viver aqui sem pagar nada”.
Tem como renda R$ 230 do Bolsa Família, valor complementado com o salário de jardineiro do atual marido. Assim como Cardoso, ela sonha com uma casa para poder dar o mínimo de condições para a família. Por enquanto, a Capital tem 1.264 unidades a serem entregues até outubro deste ano e as inscrições para contemplação dos beneficiários devem ocorrer no próximo mês.
Hélida explica que a Prefeitura de Cuiabá conseguiu negociar com a Caixa Econômica Federal (CEF) um prazo maior para contratar as outras 7.608 unidades, por enquanto, inviabilizadas por falta saneamento básico e rede de água. O problema também faz parte do relatório elaborado pelo Sindicato das Indústrias da Construção de Mato Grosso (Sinduscon-MT) e entregue em maio para o Ministério Público do Estado (MPE).