O resultado do exame complementar de análise físico-química de uma substância presente na superfície de um veículo confirmou cientificamente o atropelamento de um ciclista, ocorrido na MT-251, em 31 de dezembro do ano passado. A constatação foi feita por peritos criminais do Laboratório Forense da Politec após exames realizados em parceria com o Instituto de Física da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
O objetivo da perícia era verificar se a substância química encontrada em partes do capô e do para-lamas do veículo era compatível com o material que reveste o selim da bicicleta de uma das vítimas. O exame foi requisitado pela Polícia Civil quando o veículo foi localizado, seis dias após o crime.
A perícia complementar é solicitada para levantamento de possíveis provas materiais encontradas na cena do crime, sendo compostas por análises científicas de vestígios que podem contribuir para o esclarecimento dos fatos.
De acordo com o perito oficial criminal Alexandre Fernandes Guardachoni, quando a perícia foi acionada para atender a ocorrência, o suspeito de ter atropelado os ciclistas tinham se evadido do local. Na ocasião, as marcas da pista, as lesões encontradas nas vítimas e os sinais deixados nas bicicletas eram, até então, as únicas evidências a serem analisadas pelos peritos. “Após realizar os levantamentos de local começamos a trabalhar de forma interdisciplinar. A polícia realizando as diligências na tentativa de localizar o veículo e o suspeito, e a perícia auxiliando nas investigações”, explicou.
Segundo ele, as evidências foram colhidas primeiramente por meio de análises das imagens de câmeras de segurança, do relato das vítimas, e de cálculos utilizando como referência as marcas de frenagem do veículo na pista, além de peças deixadas no local e marcas do impacto do veículo nas bicicletas. Dias após o fato, a apreensão do veículo foi a peça-chave que faltava para a complementação dos indícios. “Quando o carro foi localizado passamos a analisar os sinais de descaracterização do veículo, e principalmente, as marcas deixadas pelo atropelamento. O delegado solicitou que realizássemos a raspagem de uma das marcas concentradas na parte do capô do carro para descobrir a sua origem, além de outros levantamentos”, disse.
A primeira suspeita é que o banco da bicicleta poderia ter sofrido atrito com o carro e deixado ali. Após análise, os peritos constatam que se tratava de uma mancha de tinta originada pelo atrito do contato entre a bicicleta e o carro. A coleta de amostras dos bancos das bicicletas, e o resquício da substância presente no veículo, foi realizada pelo perito oficial criminal Ewerton Ferreira Barros, que encaminhou a amostra para análise físico-química. “Como a metodologia e as técnicas disponíveis não eram suficientes para caracterizar este tipo de amostra, entramos em contato com departamento de Física da UFMT que dispõe das técnicas mais avançadas para este tipo de análise’’.
Por meio da técnica de ‘Espectroscopia RAMAN’, desenvolvida na Índia foi possível se determinar o padrão de espalhamento da Luz nas substâncias, a partir da vibração das moléculas das amostras. “É uma técnica nova no Brasil e consiste na incidência de um laser que, conforme o padrão de espalhamento da luz, apresenta característica da amostra, como se fosse uma impressão digital daquela substância’’, pontuou.
Ao confrontar o espectro RAMAN do material da bicicleta com o encontrado no veículo foi possível detectar que possuem a mesma substância, e origem de fabricação.
O laudo complementar foi encaminhado ao Delegado Romildo Grota Junior, da Delegacia de Delitos de Trânsito que já concluiu o inquérito. O inquérito foi encaminhado ao Fórum de Cuiabá e o laudo será anexado ao processo.
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, o motorista responsável pelo atropelamento, Fábio de Melo Moura, 33 anos, foi indiciado nos crimes de homicídio no trânsito com embriaguez, lesão corporal, fuga de local e omissão de socorro, dano qualificado e fraude processual. Uma segunda pessoa, que estava no veículo, também foi indiciada por omissão de socorro às vítimas.
O veículo Volkswagem Saveiro, de cor preta, foi apreendido na residência do acusado, localizada no bairro Jardim Leblon, em Cuiabá, por policiais da Deletran. A identificação do suspeito e localização do veículo foi possível após a oitiva de testemunhas e parentes, que apontaram o acusado, como autor do atropelamento de três atletas que estavam em treinamento. O motorista fugiu do local sem prestar socorro.