O juiz federal Murilo Mendes determinou, hoje, a desocupação do prédio onde funciona a sede do distrito indígena de saúde, em Colíder (165 quilômetros de Sinop), ocupado desde janeiro por índios que pedem a exoneração da coordenadora distrital. Dois oficiais de justiça, acompanhados de um representante da Polícia Federal, entregaram a notificação e receberam as chaves do prédio dos indígenas. De acordo com a assessoria do magistrado, a desocupação foi pacífica.
Na decisão, Murilo aponta que tentou várias soluções pacíficas para a desocupação do prédio. “Convoquei os representantes das etnias, da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), a advogada da União e o representante do Ministério Público para uma audiência. Os representantes da etnia tiveram amplo direito de palavra, apresentaram o que consideram seus problemas e fizeram suas reivindicações. Entrei em contato, em Brasília, com o secretario especial de Saúde Indígena, Antônio Alves de Souza, que se comprometeu a vir à região, desde que os índios primeiro desocupassem a área invadida. A comunidade indígena não se dispôs a desocupar a área”, relatou.
O juiz federal ainda ressaltou que deu vistas do processo à Funai e, depois da manifestação, esperou “um tempo para ver se o impasse encontrava solução na esfera administrativa. Não houve, no entanto, avanço nenhum”.
Contudo, um representante dos indígenas, que preferiu não se identificar, disse, ao Só Notícias, que os ocupantes voltaram para o prédio assim que os oficiais de justiça foram embora e só sairão mediante confronto. “Vamos ficar lá até segunda-feira e, se a polícia quiser mandar a gente embora, vão enfrentar resistência. Vai ser um banho de sangue. A gente só sai se a coordenadora for exonerada. Ninguém vai entrar naquele prédio enquanto a gente estiver lá”, afirmou.
Conforme Só Notícias já informou, a principal rodovia que liga o Nortão a Cuiabá, a BR-163, também corre o risco de ser bloqueada mais uma vez por indígenas de nove etnias, que moram na região. Segundo o cacique, Raoni Metuktire, a coordenadora é responsável por paralisar os veículos utilizados em caso de emergências médicas. “Além disso, 28 funcionários terceirizados do setor administrativo estão sem receber salários desde janeiro, e alguns estão passando necessidades devido a tal situação”, afirmou.
Há cerca de três meses, a BR-163 foi bloqueada, entre Nova Santa Helena e Itaúba, pelos mesmos índios, e carretas, caminhões, ônibus, carros e motos ficaram impedidos de passar. Os manifestantes também cobravam a exoneração da coordenadora do Sesai e alegavam que ela teria suspendido contratos e convênios supostamente superfaturados, além de ter demitido alguns indígenas envolvidos nesta situação.
Os indígenas ainda reclamavam falta de assistência na área de saúde, obras de saneamento e postos de saúde inacabados; falta de remédios e profissionais, diminuição no número de viaturas, falta de infraestrutura nas bases de atendimento, ausência de combustíveis para carro, barco e avião, além de motores geradores e placas solares que utilizam para obter energia e conservar medicamentos e carência de horas de voo para urgências.
No total, são 4 mil indígenas nas aldeias da região.