Reconhecido mundialmente por seu bioma único, o Pantanal mato-grossense, um dos maiores potenciais turísticos do Estado, está completamente abandonado pelo poder público. É isso que relatam moradores e comerciantes localizados na rodovia Transpantaneira (MT-060), via que dá acesso ao complexo, que sofrem diariamente com a precariedade na infraestrutura da estrada e das pontes da região. Em maio de 2014, a Secretaria de Estado de Infraestrutura (Setpu) esteve no local e fixou duas placas anunciando a recuperação de 13 pontes.
A obra teria como prazo de execução o período de 390 dias, ao custo de R$ 5,4 milhões, sob a responsabilidade da Construtora Santa Luzia Ltda, mas até o momento nada foi feito. Com aproximadamente 150 quilômetros de extensão, a Transpantaneira vai do município de Poconé (104 km de Cuiabá) até a localidade de Porto Jofre. Ela constitui uma parte da MT-060, que é a rodovia que liga a BR-070 ao Pantanal, partindo de Várzea Grande.
No posto fiscal da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), o gerente regional da Transpantaneira, Roberto Nunes do Rondon acompanha o fluxo de pessoas que transitam pelo local, segundo ele o problema estrutural vem se arrastando durante décadas. “Durante a época de chuva o Pantanal alaga, a água sobe e se as pontes não possuem estrutura para aguentar, é óbvio que se acabam como passar do tempo. Como isso acontece todos os anos, podemos dizer que a situação é crônica”. ele acrescenta que o lugar é visado em todo o mundo e precisa de uma atenção especial. “Aqui passa muita gente durante todo o ano, mas na época de seca é quando o movimento é maior, milhares de veículos vem para cá e em sua maioria conduzidos por estrangeiros. A estrutura precária tem prejudicado em muito nosso ecoturismo”.
Quem faz o percurso da cidade de Poconé até o início da Transpantaneira pode observar que houve uma melhora na via. Isso porquê, quem vive e trabalha na região se uniu para pagar máquinas que nivelaram a estrada, que inclusive, tornou-se a pouco tempo uma Estrada Parque, ou seja, um patrimônio que só pode ser modificado com autorização do Ministério do Meio Ambiente. O problema começa mesmo, a partir da primeira ponte. Feita de madeira e nitidamente sem receber manutenção há muitos anos. Transitar por ela é um risco que o condutor do carro terá que correr, caso não desista no meio do caminho. “Já perdemos muitos clientes e cada dia que passa perdemos mais. O Pantanal está abandonado, é como se não existisse perante os olhos dos governantes. Uma pena, pois a perda não é só nossa, mas para o próprio Estado”, diz a Evani Souza, proprietária de um restaurante instalado na região há mais de 10 anos.
Segundo ela, a situação caótica das pontes tem atrapalhado até mesmo para abastecer seu comércio. “O caminhão do atacadista entregava aqui, mas como eles não querem correr o risco de despencar junto com as pontes, agora deixam a mercadoria no posto policial da entrada da cidade e temos que ir até lá buscar”. Em novembro uma das pontes que dá acesso a dois pesqueiros e uma pousada de ecoturismo despencou, no momento em que passava um caminhão pelo local. Populares buscaram às autoridades para que esta fosse reconstituída, porém até o momento nada foi feito. “O Governo estadual informou que viriam técnicos no local para estudar uma maneira rápida e segura de refazer a ponte. A promessa já vai completar três meses e até hoje não vi ninguém passar por aqui, nem para olhar. Tivemos que abrir um desvio do lado, para que não ficássemos ilhados, mas com o período de chuva o espaço alaga e só quem tem caminhonete consegue atravessar”, conta o guia turístico e proprietário de uma pousada na região, Ailton Lara.
Passando pela rodovia de dois em dois dias, há pelo menos 18 anos Lara diz que é um dos que mais sofre com o descaso em que se encontra a via. De acordo com ele, desde que a Transpantaneira se tornou Estrada Parque as coisas pioraram. “Antes os fazendeiros, moradores e comerciantes que vivem aqui se uniam e pagavam para realizar a manutenção das pontes. Mas agora, para se fazer qualquer coisa precisa de autorização da Sema, e para que esta saia é muita burocracia e tempo”.
A falta de sinalização é outra queixa dos que vivem na região, e já foi motivo para estrangeiros e perderem. “Setenta e cinco por cento dos que frequentam o Pantanal não são do Brasil. Se nós que vivemos aqui nos perdemos, imagina quem nunca veio para cá. Já resgatei franceses que por não encontrarem sinalização, acabou entrando em uma estrada só lama e ficaram atolados, o que representa diversos riscos até mesmo contra a própria vida”, conta o empresário.
Lara ressalta que a cerca de oito meses a Secretaria de Estado de Infraestrutura fixou duas placas na Transpantaneira informando que 13 pontes seriam recuperadas, mas este foi o único trabalho que a pasta realizou no local até então. “Isso foi antes da Copa do Mundo, os servidores da Sinfra vieram, e encheram a população de esperança de que tudo ia melhorar. O Mundial já acabou e continuamos aqui, sem nenhum respaldo do Governo”.
O fazendeiro, Celso Figueiredo, 63, também testemunhou a promessa de melhoria. Segundo ele, a empresa contratada chegou a alugar um espaço em uma fazenda e montar um alojamento, mas depois de um curto período não se falou mais no assunto. “Aparentemente fizeram o estudo do solo e medições da estrada, pelo menos foram isso que nos disseram. Mas, depois desmontaram tudo e nunca mais vimos ninguém por aqui”.
Morando no local há 10 anos, ele reforça que a situação só muda de governo. “Se fôssemos viver das promessas que políticos nos fizeram, a Estrada Parque seria um paraíso. Todos os dias passamos pela ponte pedindo a Deus para não cairmos junto com ela, e acredito que assim será até que alguém sofre algo mais grave por causa delas”.
Outro lado – Segundo a Sinfra a obra de construção das 13 novas pontes começarão após o período chuvoso. Informou ainda, que a empresa contratada já se mobilizou e realizou alguns serviços preliminares.