As novas regras da Justiça Eleitoral praticadas nas eleições deste ano esfriaram e despolitizaram a disputa. Na avaliação de especialistas, as mudanças, como o menor tempo de campanha e o fim da doação de empresas, empobreceram aquilo que deveria ser classificado como a festa de democracia. Prova disso é que, em Cuiabá, por exemplo, o clima das ruas às vésperas do pleito constatava com os números das pesquisas eleitorais, que apontam para uma acirrada briga, voto a voto.
Para o analista político João Edisom de Souza, as novas regras deram para as eleições deste ano um clima “muito parecido com a ditadura, algo longe da democracia”. “Definitivamente, 30 dias é um tempo muito pequeno para o debate político, as denúncias que surgem neste período não são apuradas a tempo de serem dirimidas antes da votação e isso vai gerar uma judicialização muito forte após a proclamação do resultado”.
Ele acredita que as regras foram estabelecidas para perpetuar aqueles que estão no poder. Prova disso, segundo o analista, é que das seis candidaturas propostas em Cuiabá, os três mais bem pontuados conforme as pesquisas são aqueles com maior tempo de vida pública. “São dois deputados estaduais, um deles ex-prefeito, e um candidato que há 10 anos participa de todas as disputas”. Edisom pontua que a judicialização fará também com que boa parte dos eleitos gaste mais para se manter no cargo, com o pagamento de assessorias jurídicas, do que para custear a campanha.
LABORATÓRIO – Na opinião do analista político Onofre Ribeiro, as eleições deste ano foram usadas como um laboratório, em meio ao momento vivido pelo país, “de convulsão social”, com o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e um desgaste dos poderes Executivo e Legislativo. “Houve um deslocamento do centro do poder, que hoje pende mais para o Judiciário. As eleições de 2018 acontecerão em um clima de necessidade de mudanças profundas”.
Para Ribeiro, as próximas eleições deverão trazer mais mudanças e é possível que algumas das medidas adotadas pela minirreforma eleitoral sejam simplesmente descartadas. “Quero acreditar que a disputa de 2018 traga mudança mais profundas na legislação eleitoral, o que será possível com reformas que façam das eleições algo mais realista”.