Com o propósito de quebrar paradigmas e mostrar que os adolescentes podem e devem propor caminhos para a garantia dos seus direitos, foi aberto em Cuiabá, esta manhã, o Fórum Estadual das Crianças e Adolescentes (Foca). Organizado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca) em parceria com a Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas), o Foca reúne 54 crianças e adolescentes de cidades-polo de Mato Grosso em um hotel da capital até amanhã.
“O foco principal é consolidar o grupo, discutir direitos e deveres gerais, mas a intensão é que a cada dois meses a gente possa debater um tema, violência sexual, álcool e drogas. Porém, dialogar não só na perspectiva da repressão, mas da sensibilização. Tudo de forma lúdica e que os leve a internalizar essas vertentes”, justificou a presidente do Cedca, Annelyse Cândido.
O secretário de Trabalho e Assistência Social, Valdiney de Arruda, afirmou que a ideia é construir um canal de comunicação direta com os adolescentes, por isso a escolha também de adolescentes que representam grupos vulneráveis, a exemplo de quilombolas, estrangeiros, indígenas, jovens que cumprem medida socioeducativa e também de unidades de acolhimento.
“O Fórum é um mecanismo democrático e inédito, mas que com certeza vai promover diálogo mais franco e direto e principalmente ouvir quem mais sofre. Estaremos dialogando com cada adolescente nessa perspectiva”, contextualizou o gestor.
José Carlos Sturza de Morais, representante do Conanda, defendeu a importância do Foca, porque ele vai permitir que a criança e o adolescente tenha coparticipação nas políticas públicas voltadas à construção de cidadãos responsáveis.
“Eles devem ser integrados também nas decisões, porque eles vão sofrer as consequências dessas políticas públicas que o adulto implanta ou deixa de implantar”, observou, acrescentando que a ideia é justamente escutar e favorecer a participação, exercitando no adulto a postura de mais ouvir do que falar.
Gabriel Correa, de Poconé, trouxe sugestões de seu município para o Foca. Uma delas é o fortalecimento da cultura local como forma de evitar que crianças e adolescentes permaneçam nas ruas, em contato com o mundo do crime.
“O maior problema do adolescente é a falta de ocupação. Sempre minha avó dizia que mente desocupada é oficina para coisas ruins. Com o alto crescimento de drogas e assassinatos, a nossa cidade se transformou numa escola do crime”, ressaltou o garoto de 16 anos, ressaltando também o grande índice de gravidez na adolescência na sua cidade. “Esses pais adolescentes muitas vezes abandonam seus filhos por falta de maturidade para cria-los”.
O Foca, na opinião de Gabriel Correa, vai permitir que os próprios adolescentes apontem para os gestores públicos os problemas que os acometem e soluções. “Os adultos só vão saber o que os adolescentes querem ouvindo eles. E nós viemos para este evento dispostos a falar o que a gente pensa”, afirmou o autor do nome do aplicativo lançado pelo Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, S.O.S. Infância.
Luiz Guilherme Pinheiro, de 13 anos, deficiente visual, fez a diferença na abertura do evento. Dos oito diferentes tipos de instrumento que já aprendeu a tocar, exibiu suas habilidades na escaleta (sopro e teclado) e no teclado digital.
Conhecido nacionalmente, Luiz Guilherme veio de Chapada para participar do evento e sugeriu: “precisamos de mais oportunidades como esta para expressarmos nossas necessidades a apresentarmos nossas sugestões”. O grupo de teatro Cena Onze também esteve presente e arrancou risos da plateia.
A abertura do evento também reuniu outros gestores da Setas-MT, Poder Judiciário representado pelo juiz da Vara da Infância e Juventude, Túlio Duailibi; Ministério Público Estadual (MPE) pelo promotor da Vara da Infância e Juventude, José Antônio Borges, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), pelo conselheiro do Rio Grande do Sul José Carlos Sturza de Morais; Secretarias Municipais de Assistência Social de Cuiabá e Várzea Grande.