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Cuiabá: empresário faz palestra e relata superação contra dependência química

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Aos 11 anos, Gonçalo Agnolon, hoje com 42 anos, experimentou seu primeiro gole de bebida alcóolica. Aos 14 passou a beber nos encontros da família italiana, onde o consumo de álcool entre as diferentes faixas etárias sempre foi visto com naturalidade. Como não precisava mais beber escondido, o álcool “socialmente aceito” passou a fazer cada vez mais parte da sua vida, até o momento em que apenas ele não era mais interessante. Era preciso ir além, sair do lícito e buscar o ilícito, começando aí um longo e tortuoso caminho de dependência química percorridos durante 15 anos.

A experiência traumática com o mundo das drogas vivida por Gonçalo foi contado, ontem, para um grupo de dependentes químicos – a maioria jovens – no Juizado Especial Criminal de Cuiabá (Jecrim). O trabalho, realizado pelo Grupo de Acompanhamento, Informação e Educação do Núcleo Psicossocial do Jecrim, tem o objetivo de, por meio de palestras, dinâmicas de grupo e troca de experiências, levar estes dependentes a procurarem o caminho da recuperação.

“Eu posso dizer que cheguei ao fundo, do fundo, do poço. Quando comecei a frequentar os grupos de autoajuda os depoimentos daqueles que já tinham conseguido sair da fase crítica me ajudavam muito, me davam força para prosseguir, para continuar tentando. Por isso, eu espero que a minha história de vida ajude estas pessoas a buscarem outro caminho, se atingir pelo menos um, vou sentir que valeu à pena”, diz Gonçalo.

Após 15 anos experimentando de todos os tipos de drogas, Gonçalo diz que já não tinha mais o controle da sua vida, passava alguns dias em casa e outros na rua. “Às vezes eu ficava três ou quatro dias na rua, me drogando e perambulando, sem destino. Um dia, quando cheguei em casa e minha mãe me colocou pra fora. Disse que eu só entraria em casa novamente quando decidisse me tratar, largar as drogas. Isso foi um choque para mim. Como assim? A pessoa que era minha melhor amiga, que mais gostava de mim, tinha desistido, me abandonado? Eu precisava fazer alguma coisa. Nesse período eu tive uma filha, ela estava com um aninho e eu estava perdendo isso também. Eu precisava fazer alguma coisa”.

Gonçalo se internou várias vezes, em diversas clínicas de recuperação, levantou, caiu, frequentou grupos de autoajuda e hoje diz para aqueles que estão neste mundo escuro que é possível encontrar uma luz no fim do túnel, sair da escuridão e retomar a vida. “Estou há 15 anos, nove meses e um dia limpo”, diz, com voz trêmula, tomada pela emoção de ter conseguido assumir novamente as rédeas da sua vida.

Ele diz que a ajuda que recebeu da família para se recuperar foi fundamental. “Felizmente eu tenho um família estruturada que me ajudou muito. Eu tentei, por várias vezes, sair sozinho e não consegui. Eu pedi ajuda. O dependente sempre tem com ele a seguinte ilusão: eu comecei sozinho, eu paro a hora que eu quiser. A verdade não é essa. Começar é muito fácil e parar é muito difícil, porque nós estamos falando de uma doença, não é um desvio de caráter, não é uma má conduta, é uma doença que precisa de tratamento”.

Atualmente Gonçalo é proprietário de uma loja e presidente do Conselho Municipal de Políticas Sobre Drogas, em Cuiabá. Para os jovens ele fez questão de falar de tudo o que eles irão perder se continuarem optando pelas drogas. “Vocês vão deixar de construir muita coisa, vão abandonar estudos, família, vão perder tudo, porque o álcool e as drogas só tiram, eles não acrescentam nada de bom na nossa vida. As drogas não acrescentam conhecimento, muitas vezes as pessoas acham, por exemplo, que para escrever bem, tocar bem, têm que usar drogas e isso é equívoco, não tem nenhuma droga no mundo que insira conhecimento no indivíduo, a pessoa só tem a perder. É questão de tempo”.

Ele elogiou a iniciativa do Judiciário em promover este ciclo de palestras para os dependentes químicos. “Louvável essa atitude da Justiça, por meio do trabalho do dr. Mário Kono, do Jecrim. Ele há muitos anos vem fazendo este trabalho de buscar a recuperação dos dependentes químicos, é uma opção que está sendo oferecida para quem deseja sair dessa vida. Palestras de conscientização são muito importantes”.

Segundo o coordenador do Jecrim, juiz Mário Kono, o ciclo de palestras é um projeto piloto que teve início após um trabalho de pesquisa feito por psicólogos e assistentes sociais do Jecrim. “É uma forma que encontramos de trabalhar a conscientização a respeito do uso nocivo de drogas ilícitas. É um projeto piloto que está iniciando. Estamos aguardando os resultados, esperamos que seja positivo, se não for teremos que procurar outras alternativas, o que não podemos é ficar inertes frente ao crescimento geométrico de drogas em nosso município”, destacou o magistrado.

Conforme a assistente social do Nups, Nadir Maria Metzmer, o grupo foi criado após detectar, durante as audiências coletivas, a necessidade de fazer um acompanhamento com essas pessoas. “Aqueles que não estão no uso pesado das drogas nós encaminhamos para a saúde, para tratamento com especialistas. Os que estão no uso mais leve nós resolvermos encaminhar para este grupo onde, por meio de palestras, estamos trabalhando vários assuntos. Além da questão das drogas e as consequências sociais que o uso mesmas traz para o indivíduo, nós trabalhamos temas ligados à saúde, como DST/Aids, e a família. Todas estas temáticas são discutidas ao longo de seis encontros, este é o segundo e posso dizer que até o momento está sendo bastante proveitoso”.

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