Uma professora e um estudante da rede estadual de ensino de Mato Grosso conduzirão a tocha olímpica, em Cuiabá, amanhã. O revezamento da tocha faz parte da programação dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que serão realizados em agosto.
Professora da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc) desde 1979, Marisa Giraldelli trabalha há 35 anos com Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Especial, e mais recentemente com Educação para Imigrante. Mãe de quatro filhos, a educadora já possui tempo de serviço para se aposentar, mas continua na ativa por acreditar no poder transformador da educação. Ela foi selecionada para conduzir a tocha na Avenida Miguel Sutil, pela história de vida inspiradora.
Desde 1990, Marisa trabalha no Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) Profª. Almira de Amorim e Silva, na região da Grande Morada da Serra. Atualmente ela é diretora da unidade de ensino que atende cerca de mil estudantes, sendo 80 com múltiplas deficiências. Marisa conta que uma mudança de abordagem dos profissionais nos anos 2000 fez com a escola ampliasse o atendimento às pessoas com deficiência.
O Ceja também ampliou o atendimento aos imigrantes, principalmente aos haitianos, e Marisa é parte fundamental nessa história. Ela relata que foi procurada por uma servidora da coordenadoria de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Seduc, para atender a demanda dos imigrantes, pois a unidade possui a matriz curricular adequada e demonstrou interesse em se organizar para recebê-los. O Ceja Almira também atende estudantes indisciplinados, e egressos do Sistema Socioeducativo e Penitenciário.
“Muitos alunos não possuem referencial, acabamos por ser o exemplo positivo na vida deles. E eu quero ajudar cada história que surge, é gratificante perceber que ainda posso colaborar, por isso eu continuo. Às vezes, pessoas com 40, 50 anos vem para alfabetização e saem prontas pra prestar vestibular, já tivemos um aluno com 100 anos. Outros estudantes eu conheço e eles me conhecem, chamam de tia, mãe, abraçam, beijam. Não temos o mesmo sangue, mas somos uma família”.
Foi a filha caçula de Marisa, Mariana Giraldelli de 21 anos, quem inscreveu a mãe para ser uma das condutoras da tocha. A jovem andava no shopping e viu uma propaganda sobre as inscrições de pessoas com histórias inspiradoras para conduzir a tocha e incluiu a mãe. “Ela sempre trabalhou com alfabetização tardia, que é uma área difícil. E sempre dispensando muito amor e respeito com os alunos”.
O segundo motivo que contribuiu para sua indicação, conforme critérios definidos pela filha, foi a disposição para vencer o sedentarismo. “Comprei um tênis e estou fazendo caminhada, aos poucos. Mas estou mais segura, pois já avisaram que vão seguir o meu tempo”, brinca a professora.
O futuro engenheiro florestal Lucas Bernardino, de 19 anos, também irá conduzir a tocha olímpica. Natural de Arenápolis (município à 200 km de Cuiabá), o jovem se formou no Ensino Médio aos 15 anos, na Escola Estadual Filinto Müller, situada naquele município. Enquanto estudante da rede estadual ele participou de projetos educativos e diversas iniciativas, como a fundação do Grêmio Estudantil. Seu desempenho exemplar foi determinante para que fosse indicado como um dos condutores da chama olímpica.
Lucas foi selecionado em 2012 para o Parlamento Jovem Brasileiro, propondo ao Ministério da Educação (MEC) que incentive as universidades do país a inserir na grade curricular dos cursos de licenciatura, matérias específicas para o trabalho com alunos deficientes. Ele decidiu formatar o projeto após perceber a dificuldade de duas amigas, entre os seis alunos surdos matriculados na escola.
“Uma amiga abandonou dois cursos universitários por falta de intérprete em Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) em sala de aula. Outra, que também é deficiente auditiva, viajava todos os dias de Nortelândia até Arenápolis para estudar por conta do mesmo problema”.
Em busca de uma solução, o adolescente propôs que durante o estágio supervisionado os professores em formação sejam avaliados, pelo processo de interação em sala de aula e seja possível aferir se realmente o professor conseguiu administrar os problemas no ambiente com alunos deficientes.
O projeto do jovem sobre educação inclusiva foi classificado entre os cinco melhores, na última fase, em Brasília. Após a incursão na Câmara dos Deputados, Lucas Bernardino começou a palestrar sobre o tema: Política e Juventude, no qual aborda os programas e projetos educativos nos quais os estudantes poderiam ingressar e desmistificava a política. Cerca de 30 mil estudantes foram alcançados em três anos.
Atualmente acadêmico do 7º semestre da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) campus Cuiabá, Lucas trabalha há dois anos na Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales (Aiesec). E retornou nessa segunda-feira (20.06) de um intercâmbio social no Peru, onde desenvolveu trabalhos de educação e conscientização ambiental com crianças, adolescentes e adultos, durante seis semanas.
“Agora me sinto privilegiado, pois não esperava ser um dos 131 condutores da tocha em Cuiabá. Preciso reconhecer que essa não é uma conquista individual, quero agradecer aos meus pais, professores e servidores da Seduc que sempre incentivaram as minhas conquistas”.