O governador Pedro Taques coordenou, ontem, a primeira reunião de avaliação e acompanhamento da Caravana da Integração, realizada pelo Estado entre os dias 22 e 27 abril pela Bolívia, Chile e Peru. No geral, a avaliação foi positiva e o governo trabalha para a concretização das ações de integração comercial com os países do centro-oeste da América do Sul.
Pedro Taques avalia que a viagem de cinco dias serviu para que alguns mitos pudessem ser superados. O primeiro deles é da impossibilidade de chegar ao Pacífico e também a desmistificação de que toda produção de Mato Grosso pudesse ser exportada pelos portos do Pacífico. Taques acredita que parte do que é produzido em Mato Grosso pode ser exportado através dos portos do norte do Chile e sul do Peru.
O governador também destacou a importância de trabalhar junto ao Governo Federal para intensificar o trabalho de integração com os países andinos. Também pedirá apoio nas tratativas junto ao governo da Bolívia para que inclua a rodovia que liga San Matias a San Ignácio entre as que serão asfaltadas no novo programa de pavimentação do governo boliviano. Taques acredita que a pavimentação dos 315 quilômetros que faltam para ligar Cuiabá à cidade de Santa Cruz de La Sierra é significativa para que a integração ente Mato Grosso e os países do centro sul-americano aconteça efetivamente.
O vice-governador Carlos Fávaro elencou dois pontos que chamaram atenção durante a Caravana da Integração: a parte cultural da Bolívia que pode ser beneficiada pelo turismo na região da Chiquitos e o segundo ponto é quanto à legislação ambiental boliviana. Apesar de ser parecida com a brasileira, Fávaro comentou que o avanço ambiental está no zoneamento. O vice-governador informou que a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) já estuda a implementação do zoneamento para a melhor ocupação do solo em Mato Grosso.
O deputado federal Ezequiel Fonseca, que representou a Câmara Federal na Caravana da Integração, disse que o que mais atenção foram as zonas francas instaladas nas cidades visitadas. “Montar uma zona franca é algo possível e devemos avançar nesse processo”, disse em referência à Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Cáceres.
Já o deputado estadual Pedro Satélite lembrou que o governador Dante de Oliveira também buscou exportar produtos de Mato Grosso pelo Pacífico, mas que a logística era um problema. Para ele, a saída pelo Oceano Pacífico é estratégica. “Isso tem que ser feito sim, precisamos mostrar o potencial de Mato Grosso para os nossos vizinhos”.
O deputado estadual Leonardo Albuquerque, que é de Cáceres, afirmou que é preciso desmistificar a questão da fronteira como apenas entrada de drogas e produtos ilegais. “É precisamos que vejamos as oportunidades. É preciso que vejamos o bom negócio. Eles podem consumir os nossos produtos e nós também podemos consumir o deles”.
Wancley Carvalho, do Legislativo estadual, lembrou que as cidades da fronteira também devem ser beneficiadas com a pavimentação entre Mato Grosso e a capital do Departamento Autônomo de Santa Cruz. O parlamentar propôs ao governador uma expedição pela fronteira do lado mato-grossense. Wancley entregou a Taques o trabalho de um aluno do curso de comércio exterior do campus do IFMT de Pontes e Lacerda que trata da saída dos produtos de Mato Grosso pelo Pacífico.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, comentou que Mato Grosso, por estar no centro geodésico da América do Sul, precisa considerar todas as oportunidades de escoamento. “Vimos a eficiência dos portos do Pacífico que visitamos, como também o tempo que nós ganharíamos exportando esses grãos para Ásia através dos portos do Oceano Pacífico. Para nós, é muito bom isso”, disse.
Além disso, Rui também lembrou que um estudo do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) fala sobre a viabilidade da saída pelo Pacífico pela ferrovia Bioceânica, que está em tratativa entre o governo brasileiro, a China e o Peru.
O secretário de Estado de Infraestrutura, Marcelo Duarte, destacou que Mato Grosso é o único estado do país que tem suas mercadorias exportadas por todos dos portos do Brasil, de Norte a Sul. A construção de rodovias por empresas chinesas foi um dos pontos que chamou atenção na passagem pela Bolívia. Para ele, em tempos de grandes casos de corrupção, a participação de empresas estrangeiras em licitações pode ser benéfica para dar transparência e agilidade na pavimentação das estradas mato-grossenses.
Já o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Seneri Paludo, afirmou que sete pontos serão trabalhados pela equipe do governo após a Caravana da Integração: o primeiro aspecto é a ZPE como plataforma de ampliação do mercado; o segundo é a participação do estado de Mato Grosso em eventos nos três países (Chile, Peru e Bolívia); o terceiro é o intercâmbio da apicultura (muito avançada na região); a quarta agenda é uma parceria do Desenvolve MT com a agência de desenvolvimento de Arica; o quinto é a conquista de voo permanente entre Cuiabá e Santa Cruz de La Sierra. O sexto ponto é a estruturação de uma rota turística e o último trata da inclusão da pavimentação de San Matias a San Ignácio nas discussões de renovação do contrato de fornecimento de gás da Bolívia para Mato Grosso.
O representante da Fiemt na Caravana da Integração, Serafim Carvalho Melo, ressaltou que esta foi a viagem mais decisiva entre as expedições que foram realizadas por equipes de Mato Grosso desde 1993. Para ele, a pavimentação do trecho de 315 quilômetros tratada pelo governador mato-grossense como um dos pontos principais da viagem demonstra que a caravana teve o seu diferencial.
O presidente da Aprosoja, Endrigo Dalcin, contou que esteve com a empresa responsável pela elaboração dos estudos da ferrovia Bioceanica e defendeu a união para cobrar mudança no traçado do modal para que seu fim possa ser no Sul do Peru e não no Norte, como os primeiros desenhos demonstram. Também da Aprosoja, Antônio Galvan, lembrou das dificuldades de chegar à saída pelo Pacífico por rodovia, já que a soja in natura não é um produto de poder agregado. Entretanto, produtos como o farelo e óleo de soja poderiam ser exportado por essa região.
O diretor executivo da Acrimat, Amarildo Merotti, destaca que teve uma grata surpresa ao conhecer de pertos os mercados da Bolívia, Chile e do Peru. Segundo ele, a Bolívia tem um rebanho de 8 milhões de cabeças de gado bovino e Mato Grosso exportou U$ 40 milhões em carnes no ano passado, número que pode aumentar. Além disso, outro grande mercado para a carne de Mato Grosso pode ser o Chile, que segue aumentando a exportação de carne. “Se a gente exportar por aqui, nós vamos ter um valor mais agregado ao nosso boi”, avaliou sobre a concretização do novo corredor.
Já o presidente da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), Luiz Augustin, lembrou que a intenção é o fortalecimento do comércio. Ressalta que em feiras comerciais, Mato Grosso poderá conhecer melhor os produtos que pode oferecer aos países andinos e também quais pode comprar.
O empresário Eraí Maggi, do grupo Bom Futuro, comentou que em muitos momentos se emocionou e pode conhecer um outro lado da Bolívia. Nascido em região de fronteira com o Paraguai, Eraí acredita que a pavimentação da estrada entre San Matias e San Ignácio vai levar ao desenvolvimento de toda a região, inclusive com a participação de empresários brasileiros.
O presidente da Associação Matogrossense de Atacadistas e Distribuidores (Amad), João Carlos Sborchia, afirmou que a viagem serviu para mostrar que é possível superar os desafios. Comenta que as iniciativas do governo podem ajudar a fortalecer o comércio da região. Lembra que Mato Grosso tem um mercado consumidor pequeno e por isso precisa buscar parceiros comerciais.
O presidente do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), Guilherme Nolasco, ressaltou que a caravana serviu para estreitar os laços entre o Estado e o governo de Santa Cruz e da Bolívia, bem como alinhar as estratégias de vigilância sanitária entre os países.
O professor de engenharia da Universidade Federal de Mato Grosso, Luiz Miguel, contou que durante a rota foram visitados quatro dos polos mais importantes do pacífico, sendo dois no Chile e dois no Peru. Segundo ele, a UFMT está estudando a solicitação de intercâmbio com os três países visitados. Luiz Miguel afirmou que a viagem também serviu para colocar Mato Grosso na ligação bioecânica, por meio do Vale do Rio Guaporé, inclusive a UFMT fará um estudo de viabilidade técnica e econômica do rio, a pedido do Ministério do Transporte.
O também professor da UFMT e PhD em História da América Latina, Alfredo da Motta Menezes, o reconhecimento pelo governo de Mato Grosso da importância de uma ligação asfáltica com a cidade de Santa Cruz de La Sierra é o que fez a Caravana da Integração ser diferente de outras que já existiram.
A representante do trade turístico de Mato Grosso, Claudia Aquino, lembrou que a caravana partiu da FIT Pantanal, demostrando o tanto que a indústria do turismo é importante para o estado. Cláudia afirmou que os produtos turísticos vistos na Caravana também poderão ser importados como exemplo para Mato Grosso. Ela elogiou a internacionalização do aeroporto que poderá ajudar no crescimento e desenvolvimento do turismo do Estado.
O presidente do Sindicato Rural de Tangará da Serra, Reck Junior, classificou a missão como “caravana da oportunidade”, pois viabilizou ao estado oportunidades de curto, médio e longo prazo. Ele também destacou a importância de apresentar a ZPE de Cáceres para uma região potencialmente consumidora.