Conforme especialistas, o acesso também poderá facilitar a relação com os países do Pacífico, que concentram mais da metade dos consumidores do planeta. Para o professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), mestre em Engenharia Oceânica e doutor em Engenharia de Transportes, Luiz Miguel de Miranda, a ligação do Estado com Chile é fundamental para o desenvolvimento do Estado.
“Quem fabrica pipoca, lençol, persiana, cimento ou qualquer produto tem que ver onde que estão as pessoas para comprar este serviço. Então, comercialmente nem se discute as vantagens do mercado produtor de Mato Grosso se voltar para a Bacia do Pacifico. Isto é indiscutível, são números, não tem como contestar, temos que chegar onde podemos vender os produtos”.
De acordo com Luiz Miguel, a Caravana é simbólica por demonstrar o esforço do Governo em mostrar aos produtores os benefícios e as dificuldades logísticas de utilizar a rota para escoar os produtos pelo Pacífico. Segundo o professor, Mato Grosso possui diversas cargas de valor agregado o que reforça as vantagens das vias.
“É importante que a gente entenda a importância de reforçar as ligações internas de Mato Grosso com o centro-oeste da América do Sul que tem um polo em Santa Cruz (BO). Ou seja, antes de pensar em pacífico, soja, minério ou qualquer coisa, precisamos pensar na via em que se vai chegar a esses portos e por isso é necessário concretizar a ligação até Santa Cruz, sem ela todas as viagens que fizemos aqui, serão perdidas”.
De acordo com Alfredo da Mota Menezes, PhD em História da América Latina pela Tulane University, uma das maiores beneficiárias com o desenvolvimento da integração dos países será a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Cáceres (225 km a oeste de Cuiabá), que teve a sua licitação recentemente lançada.
“A base é a ZPE, que obrigatoriamente tem que exportar 80% da sua produção, então tem que industrializar o algodão, o óleo de soja e os outros produtos, mas vai exportar para onde? Colocar em um carro e ir para Paranaguá, Santos? Não tem lógica, tem que exportar para o Mercosul, mas para esta região temos que vender produtos”.
Conforme Alfredo, a via será boa tanto para exportação quanto para importação, pois os países também contam com uma variedade de produtos que interessam Mato Grosso. “É mão dupla, nós vamos vender e vamos comprar deles. O que eles tem? Tem sal, fertilizantes, adubos, peixes, vinhos e tudo mais, mas a base será a ZPE”.
Segundo o historiador, a Bolívia conta com um mercado consumidor muito grande também, pois somente a região de Santa Cruz conta com mais de 3 milhões de pessoas. “Mas, é bem mais do que isto, se a estrada para Santa Cruz sair, e vai sair, abre-se um universo novo para Mato Grosso. Em Santa Cruz tem ligação para todo o mundo andino. São 144 milhões de habitantes com um PIB de um trilhão de dólares. Quando eu falo de países andinos estou falando de Colômbia, Chile, Venezuela, Peru e todo este mundo que se abre para Mato Grosso, está apenas faltando o asfalto”.
Alfredo destacou a maneira como os investimentos serão realizados na rodovia, por meio de empréstimo da Corporação Andina de Fomento (CAF). “Este foi um trabalho do governador Pedro Taques junto a CAF, para que o empréstimo seja da CAF ou do BNDES, mas quem vai pagar é a Bolívia e este é um trabalho de longo prazo”.
De acordo com o professor, Mato Grosso também tem articulado uma conversa com a União e o Governo da Bolívia para que a rodovia seja erguida.