Quase 35% dos municípios mato-grossenses não possuem delegados. O déficit dos profissionais necessários para atender todos os 141 municípios no Estado é de 43,7%. Dados da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso apontam que no Estado são 225 profissionais enquanto que o necessário seriam 400. Diante dessa realidade a população sofre com a falta de estrutura e os casos de polícia registrados nessas localidades são acumulados por profissionais de outras comarcas, que acabam trabalhando 24h por dia, de segunda a segunda, sem folgas. Essa sobrecarga de trabalho e a falta de infraestrutura são as principais reclamações da categoria no interior.
Conforme o Sindicato dos Delegados de Polícia de Mato Grosso (Sindepo), a situação de parte dos profissionais no Estado chega a ser “desumana”, já que grande parte acaba fazendo “quadrupla” jornada de trabalho, atuando em até 4 municípios do interior, sem folgas e sem fins de semana, como no caso do delegado Gilson Silveira, que atua na comarca de Comodoro (644 km ao oeste de Cuiabá). Sozinho o delegado responde ainda pelas cidades de Campos de Júlio, Nova Lacerda e Rondolândia que juntas somam aproximadamente 40 mil habitantes. A carga horária de todos os servidores da polícia é de 40h semanais e 160 mensais.
Conforme o delegado, além da sobrecarga por atender aos 4 municípios, outra situação que dificulta ainda mais o trabalho e contribui ainda mais para o desgaste da profissão está ligado às distâncias que precisam ser percorridas para o atendimento nessas cidades. “De Comodoro até Rondolândia, por exemplo, são 500 km, não da para ir por dentro do Estado, eu preciso ir por Rondônia”.
A situação se repete em Sinop (500 km ao norte de Cuiabá) onde a delegacia regional adotou um sistema de plantão mensal, já que alguns municípios da região, como Vera, Feliz Natal e Nova Ubiratã, por exemplo, não têm delegados efetivos. De acordo com o delegado regional Sérgio Ribeiro, mesmo sobrecarregados os delegados e investigadores se desdobram para atender todas as demandas. “Aqui elaboramos o plantão na tentativa de garantir um descanso para cada profissional, mas mesmo assim ainda há sobrecarga”.
Em várias delegacias em que a reportagem entrou em contato, delegados e investigadores relataram que além da sobrecarga e jornada exaustiva, as equipes que já são pequenas, algumas vezes compostas apenas pelo delegado, que fica em outra comarca, e por um escrivão e um investigador, ainda precisam se desdobrar para fazer a segurança dessas delegacias que não podem ficar sozinhas, e diversas vezes realizar cotas para dar comida às pessoas detidas no local. “Em tese essas pessoas ficam na delegacia só enquanto aguardam serem encaminhadas ao presídio, porém o mesmo fica em outro município e dependendo do horário e até mesmo das ocorrências, ficam 2 dias aqui, aí temos que dar comida, não dá para deixar passar fome”, relatou um investigador que não quis se identificar.
Conforme o delegado, presidente do Sindepo, Wagner Bassi Júnior, a questão de sobrecarga de trabalho é uma das principais reclamações dos delegados no interior, que acabam tendo a saúde física e emocional comprometidas, mas além disso, outros problemas enfrentados pelos delegados também dificultam e atrasam muitas investigações, como prédios inadequados, que não passam por reparos necessários, falta de pessoal para trabalhar e diversas vezes precisam tirar dinheiro do próprio bolso para garantir material de trabalho e até mesmo limpeza nas unidades. “Muitos trabalham 24 horas por dia, de segunda a segunda, isso é desgastante, é desumano, e ainda precisam lidar com esse cenário de falta de estrutura”.