A presença de dependentes químicos e tráfico de drogas realizado em plena luz do dia tem afastado população de um dos locais considerados cartão postal da Cuiabá, a Orla do Porto. Comerciantes e moradores relatam que nos últimos 2 meses, situação que já é considerada crônica, piorou consideravelmente, devido à migração de usuários de drogas, que antes habitavam a chamada “Ilha da Banana”, entre o Morro da Luz e a Igreja do Rosário, no centro da capital, que foi demolida. Dentre as reclamações, população relata a sensação de insegurança, ameaças e queda de vendas de pelo menos 70%.
Há 17 anos mantendo um bar no bairro Porto, um comerciante, que preferiu não se identificar, diz que já não sabe mais o que fazer para espantar os dependentes químicos e os traficantes de drogas que sentam na porta de seu estabelecimento, espantando clientes e muitas vezes até mesmo o ameaçando. “Antes eu vivia bem, tinha um lucro muito bom. Hoje eu abro apenas para manter o bar e pagar uma funcionária. Situação deprimente para quem já teve 5 empregados”.
O comerciante frisa que nos 2 últimos meses a quantidade de usuários de drogas na região cresceu pelo menos 3 vezes mais. Segundo ele, os piores períodos compreendem entre os horários das 5h e 6h e logo no início da noite, por volta das 19h. “Eles ficam aqui o dia todo. Pode passar a qualquer momento, que pelos menos uns 10 a gente vê. Mas, nestes horários em específico, chega a ter uns 50 concentrados entre a praça e a extensão da Orla”.
Antes mesmo de ter um bar, o comerciante já era morador do Porto, somando um total de 25 anos. Ele lamenta o rumo que o bairro tido como um dos mais tradicionais da capital tenha tomado e frisa que a região parece ter sido esquecida pelo poder público. “A polícia passa por aqui, chega a parar e ficar alguns minutos na praça. Mas, tudo acontece sob os olhos deles e nada é feito . O ideal seria ter uma base na praça, acho que ajudaria muito”.
A instalação de uma base policial na região também é defendida pela proprietária de uma lanchonete fixada próxima à praça. Também sem se identificar, a comerciante reconhece que até novembro do ano passado ela incrementava o orçamento alugando quartos, para prostitutas. Porém, após uma operação realizada pela prefeitura regularizou seu estabelecimento e tenta sobreviver com a venda de refeições e bebidas. “Eu cheguei a ficar quase 2 meses com as portas fechadas, foi um apuro muito grande, mas me reergui. Porém, com o acúmulo de usuários de drogas na porta do meu comércio, as vendas caíram demais e estou tendo dificuldades, pois tenho que pagar a faculdade dos meus 2 filhos”.
Ela relata que cliente chega a entrar, mas com o cheiro forte de maconha, não permanece muito tempo no local. “E o pior, temos de nos fazer de cego, surdo e mudo, porque se não ainda somos ameaçados pelos traficantes”.
A garota de programa identificada apenas como Lorrana diz que tráfico de drogas e usuários de entorpecentes atrapalharam também o seu trabalho. “Aqui é ponto de encontro, os homens vinham beber e nós sentávamos com eles e daqui íamos para o motel. Como muitos não frequentam mais os bares por causa dos drogados, a gente também fica sem serviço”. Lorrana diz que antes chegava a fazer até 6 programas por dia e hoje dificilmente faz um.
O secretário de Ordem Pública, Leovaldo Salles informou que a pasta em conjunto com a Polícia Militar vai intensificar a segurança, combatendo o tráfico e consumo de drogas no Porto. Além de fechar os estabelecimentos comerciais que não possuem alvará de funcionamento e aqueles que estão em desvio de atividade, ou seja, tem a permissão para funcionar como bar, mas que na verdade são ponto de prostituição.
Em uma segunda etapa, junto com a Secretaria de Assistência Social (SMAS), os dependentes químicos serão encaminhados para uma unidade de tratamento. “Vamos iniciar estas ações já na próxima semana”.
Já a SMAS destacou que está ciente da situação e que em breve constituirá o Comitê Intersetorial para elaboração da Política Municipal para a População em Situação de Rua, que detalhará serviços, ações e metodologias a serem utilizados para essa população. Para esse atendimento serão disponibilizadas as unidades do Albergue do Porto, Albergue Manoel Miraglia e o Albergue da Guia. Cada um com capacidade de acolher 50 pessoas.
A pasta enfatizou que não tem autorização para retirar as pessoas que vivem nas ruas contra a vontade destas. Entretanto, uma equipe faz diariamente visita nos pontos mais críticos da cidade, acompanhada de assistente social e equipe de saúde com o apoio da secretaria de Ordem Pública, em busca de amenizar o problema e convidando para tratamentos de livre e espontânea vontade.