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Mensalão: deputados tentam negociar acordo para evitar cassações

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O diagnóstico é do deputado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP): a divulgação dos nomes dos 18 deputados passíveis de cassação produziu um efeito imediato de auto-preservação e eles estão atuando fortemente nos bastidores para se salvar. O próprio Dirceu é um deles.

“Quem articulou a defesa foi o (Osmar) Serraglio [relator da CPI dos Correios]. Ao divulgar o nome dos cassáveis, ele fez a turma se mexer”, disse Dirceu num conversa informal, quinta-feira, no cafezinho da Câmara. Na sua versão, são os acusados que mais trabalham por um “acordão”.

Dirceu não disse, mas uma das formas de “trabalho” é a chantagem. Parlamentares dizem que o líder do PP, José Janene, por exemplo, ameaça “contar tudo o que sabe”, inclusive do correligionário Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente da Câmara e responsável por mandar os processos ao Conselho de Ética.

Mas não são só os acusados que reagem, e o Congresso sente “a mão” do Planalto em vários movimentos, desde a aprovação do salário mínimo de R$ 300, como o governo queria, até a convocação do banqueiro Daniel Dantas (Opportunity) para as CPIs dos Correios e do Mensalão. Dantas é ligado ao PFL e, na visão governista, pode ajudar a reduzir o ânimo investigativo das oposições.

Ou seja, há três correntes principais no Congresso: a oposição e os dissidentes governistas e do próprio PT que defendem as CPIs e as punições; o Planalto e os líderes que lhe restam no Congresso esforçando-se para tirar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da mira; e os parlamentares acusados, em franco trabalho de “convencimento” dos colegas.

Pelo governo, atuam principalmente o ministro Jaques Wagner (Coordenação Política) e o líder na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), mas os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Ciro Gomes (Integração Nacional) ajudam na formulação da defesa. “Vocês não se enganem. Eles estão agindo, e com a maior competência”, disse o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini (SP).

A ação tem dois sentidos: aprovar as matérias de interesse do governo e isolar Lula das denúncias. Para isso, basta lavar as mãos em relação às investigações e punições de parlamentares.

É por isso que os envolvidos petistas tratam de tentar salvar a própria pele, como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP), que tem se encontrado até com tucanos, como o deputado Gustavo Fruet (PR), relator da CPI dos Correios, insistindo na sua inocência.

Num jantar promovido pelo empresário Johnny Saad (Bandeirantes), na semana passada, reuniram-se parlamentares do PFL e do PSDB com outros do PT, inclusive o líder Chinaglia e o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), da CPI dos Correios.

O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), admitiu a possibilidade de diálogo em torno da “governabilidade”, mas reclamou que Lula “vive no palanque e não ajuda”.

A grande questão no Congresso continua sendo quem e quantos parlamentares deverão ser cassados. E essa questão começa pelos dois principais envolvidos: o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que denunciou em entrevista à Folha o esquema de distribuição de dinheiro conhecido como “mensalão”, e o ex-ministro Dirceu, que é acusado por Jefferson de ser o chefe do esquema.

Há um consenso de que Jefferson será cassado, sob o argumento de que confessou ter recebido R$ 4 milhões da central de distribuição operada pelo publicitário Marcos Valério. Mas Dirceu prefere outra linha de acusação ao petebista: a de que ele mentiu.

Segundo o ex-ministro, “vai ficar claro que não existia “mensalão” nenhum, e eu não posso ser condenado por algo que não existia”. Como desde o início da crise, Dirceu não pára de repetir: “Não há nada contra mim”.

O constrangimento dos integrantes das CPIs é esse: não dá para cassar só um deputado, principalmente se ele (Jefferson) é justamente quem denunciou a corrupção. Ao mesmo tempo, não há provas concretas contra Dirceu, só a convicção generalizada de que ele foi o mentor do “esquema Valério”. Para um integrante da CPI do Mensalão, há precedentes de cassação por convicção. Seria um ato político, não jurídico.

O governo tenta pressionar as votações em plenário e se acertar com Severino Cavalcanti, figura decisiva para encaminhar os processos de cassação. Ele é notoriamente contra: “Temos que parar com esse denuncismo”, disse.

Na contra-ofensiva, o Planalto passou a assediar o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), criando mal-estar e suspeitas dos oposicionistas na comissão. Há, porém, uma outra versão: a de que as cobranças públicas do PFL e do PSDB em relação a Delcídio foram previamente combinadas com ele próprio.

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