O publicitário Duda Mendonça confirmou nesta quinta-feira à CPI dos Correios que recebeu dinheiro vivo e que alguns repasses da SMPB, de Marcos Valério, vinham de contas do exterior. Em uma das remessas, Duda confirmou ter recebido R$ 300 mil em dinheiro. Segundo ele, os recursos vinham em “pacotes”.
“Esse dinheiro era claramente pago de caixa dois, dinheiro por fora. Não podíamos emitir nota, mas não somos bobos. Era dinheiro de caixa dois.”
Duda disse que estranhava receber em espécie, mas como tinha que pagar fornecedores, aceitou os recursos. “Não tinha poder de decisão. Não havia alternativa.”
Ele repassou à CPI uma série de faxes que seriam enviados pela SMPB que mostravam o repasse de dinheiro, por exemplo, saindo de um Banco de Israel para a conta de Duda nas Bahamas, um paraíso fiscal. Nos documentos aparecem ainda registros dos banco Rural Europa, Trade Link e Florida Bank.
No depoimento, Duda envolveu o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares afirmando que os repasses eram tratados com ele.
Duda chorou quando falou que se orgulha do trabalho, da carreira e dos prêmios que ganhou. “Talvez não tenha nenhum prêmio no mundo que eu não tenha ganhado”, disse, emocionado. “Eu sou um cara honesto. A minha empresa é séria e eu pago os meus impostos”, acrescentou.
O publicitário se apresentou espontaneamente à comissão, que havia marcado para hoje o depoimento de Zilmar Fernandes, sua sócia. Pelo acerto feito com integrantes da CPI, Zilmar fez uma apresentação inicial e depois Duda teria a palavra. Depois, a sócia e o publicitário prestam depoimento em conjunto.
Durante sua apresentação, Duda disse que os advogados dele disseram que haveria riscos para ele depor na CPI. “Para mim o maior risco é permitir que uma imagem construída e respeitável há 30 anos fosse comprometida por uma coisa que não me considero nem de longe culpado. Posso ter cometido um equívoco, uma lapso fiscal, mas não cometi um erro sério, um erro de honestidade, um erro de caráter”, ponderou.
Ainda hoje, Duda disse que abriria mão de seu sigilo pessoal e do sigilo de suas empresas.
Paraíso fiscal
Ontem, em depoimento à Polícia Federal em Salvador, Zilmar confirmou ter recebido recursos do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza referentes às dívidas do PT com a empresa de publicidade que fez a campanha do partido em 2002.
Segundo Zilmar, o pagamento da dívida de R$ 11,5 milhões foi condicionado à abertura de uma conta bancária em um paraíso fiscal. Ela afirmou que ouviu de Marcos Valério que ele “não poderia efetuar o pagamento através das instituições financeiras brasileiras”.
A sócia de Duda declarou que foi aberta uma “offshore” nas Bahamas, cujo nome ela não se recorda, mas disse que poderia ser Dusseldorf. A cobrança desses R$ 11,5 milhões seria a condição imposta pela empresa de Duda Mendonça para que fosse renovado um contrato com o PT para a realização de programas comerciais do partido no valor aproximado de R$ 7,5 milhões.