O interventor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Mato Grosso, Elielson Ayres, acredita que as investigações sobre a quadrilha que extraía e vendia madeira ilegal no estado não revelam ligações políticas no esquema. “Não há nenhuma prova, nenhum elemento que nos possibilite dizer que há tentáculos políticos vinculados a madeireiros, a despachantes”, avaliou Ayres.
De acordo com o delegado da Polícia Federal em Mato Grosso, Tardelli Boaventura, numa das gravações realizadas durante a investigação, madeireiros conversam sobre a necessidade de comprar convites para um jantar de arrecadação de recursos para a campanha do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à prefeitura de Cuiabá, Alexandre César, em 2004.
Na conversa gravada, os madeireiros comentam que a compra dos ingressos seria importante para manter no cargo o então gerente-executivo do Ibama em Mato Grosso Hugo José Werle. Petista, Werle foi preso por suspeita de participar da quadrilha do desmatamento ilegal.
Cada convite custava R$ 500 e o evento teve a participação do ministro José Dirceu, da Casa Civil, e do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS). Outros telefonemas gravados pela PF registram a conversa da secretária de Werle com madeireiros, em que ela pede a confirmação no jantar.
“Em princípio não ficou evidenciado nenhum tipo de crime, nenhum tipo de ilícito porque foi um jantar na véspera da eleição, com o objetivo de arrecadar fundos para a campanha”, afirmou Boaventura, responsável pela investigação da Operação Curupira.
O interventor do Ibama disse que Hugo Werle também realizou doações pessoais para a campanha no valor de R$ 5 mil. Além disso, conseguiu a doação por parte de empresários também acusados de participar da quadrilha, no valor de R$ 50 mil, e de seu gerente-adjunto, no valor de R$ 5 mil. “No meu entendimento, ele queria era uma posição mais importante dentro da campanha e deu aquelas contribuições”, disse Elielson Ayres.
Hugo Werle foi uma das pessoas presas pela Operação Curupira, realizada pela Polícia Federal a pedido do próprio Ibama, para identificar o esquema ilegal de extração e venda de madeira no estado. Foram 20 meses de investigação para identificar a forma de atuação e os integrantes da quadrilha que agia há 14 anos e tinha a participação de funcionários do Ibama em Mato Grosso, madeireiros e despachantes.
Além de Hugo Werle, também foram presos outros dois filiados ao PT: Ana Luíza Mancini da Riva, gerente do Ibama em Sinop; e Marcos César Antoniassi, gerente do Ibama na cidade de Juara e presidente do diretório municipal do partido em Novo Horizonte do Norte.
O interventor do Ibama destacou, no entanto, que também houve prisão de funcionários do instituto que foram indicados por outros partidos. É o caso, por exemplo, de Laércio Campos, Dirceu de Souza e Paulo Roberto Salazar, ex-chefes de escritórios do Ibama em Mato Grosso. Os três foram indicados para os cargos pelo deputado federal Pedro Henry, do Partido Progressista (PP) mato-grossense.
“Essas acusações políticas de um lado e de outro, na minha opinião, não têm elementos dentro do campo de provas que foram recolhidas”, disse Ayres. Outro preso pela operação, o ex-gerente do Ibama em Sinop Gleyçon Benedito de Figueiredo, foi indicado pelo deputado federal Ricarte de Freitas, eleito pelo PSDB e hoje no PTB.
Para o interventor, os atos praticados por pessoas com filiação partidária não representam a conduta dos partidos. “É até leviano colocar isso”, defendeu. “Eu acho que a atuação, a imoralidade, a desonestidade foi das pessoas que tinham recebido outorgas de partidos e não cumpriram com o dever das suas funções”, concluiu.
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Interventor do Ibama em Mato Grosso diz que não há ligação política no esquema
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