A decisão da direção nacional do PT de orientar a bancada do partido no Congresso para retirar as assinaturas da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) mista dos Correios provocou um novo racha no partido. O mal-estar fez com que petistas históricos viessem a público contra a posição do governo e da cúpula petista.
Para grande parte dos petistas do Congresso, o partido vive hoje um conflito ético. De um lado, derrubar anos de história partidária e retirar as assinaturas da CPI. De outro lado, aceitar a CPI e ir contra as determinações da direção partidária.
“Este é um dos momentos mais tristes da minha vida. Não tenho como retirar a assinatura da CPI. O governo não entende que a oposição, ao forçar o PT a uma tática de abafar a CPI, está retirando o maior patrimônio do partido, que é a sua credibilidade. O PFL e o PSDB estão nos igualando a eles. Os governos passam, os partidos ficam. Isto é uma mancha para o PT”, avaliou o deputado Walter Pinheiro (PT-BA).
Pinheiro é um dos 19 deputados do partido que assinaram o requerimento que pediu a abertura da CPI mista para investigar o suposto esquema de corrupção nos Correios.
A CPI se baseia nas denúncias publicadas pela revista “Veja”, na qual o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, é flagrado cobrando propina para aprovar uma licitação e afirma que há um esquema comandado pelo presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ).
A bancada petista na Câmara volta a se reunir hoje, às 16h. A bancada do partido no Senado se reuniu pela manhã e decidiu não apoiar a CPI. A decisão da bancada no Senado levou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) a enviar uma carta ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, demonstrando seu pesar pela decisão.
“Passo por um dos maiores dilemas de minha vida parlamentar, porque nunca contrariei a decisão tomada pela bancada ou pela direção do partido. Todavia, percebo que jamais a direção esteve tão distante da vontade popular e de tantas pessoas que nos deram a maior força e toda nossa trajetória desde 1980”, afirma Suplicy no documento.
O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), confirma que seu partido está vivendo um conflito ético, mas afirma que defender o arquivamento da CPI não é um problema ético pessoal para ele.
“Na bancada, há um conflito de garantir a nossa história do ponto de vista ético. Esta é a questão real. E este é um conflito real, não imaginário. É por isto que eu faço esta defesa, em função do meu passado, da minha história, do PT e do governo Lula.”
Tanto Arlindo Chinaglia como o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), confirmaram que conversaram na manhã de hoje com o presidente Lula, que está em viagem à Coréia e Japão.
Na conversa com Chinaglia, Lula recebeu um relato da situação da CPI dos Correios e sobre o conflito interno na bancada petista. Com Mercadante, o presidente teria discutido a posição de PSDB, avaliada como de enfrentamento ao governo.