Luiz Antônio Vedoin, o chefe da máfia dos sanguessugas, estava desconfiado de que poderia levar um calote do PT nas negociações para a venda do dossiê destinado a incriminar candidatos tucanos. O clima de desconfiança fica claro pelas idas e vindas que aparecem em conversas gravadas pela Polícia Federal – que monitorou o celular do dono da Planam entre 9 e 15 de setembro, dia em que os envolvidos diretamente no escândalo foram presos. Os diálogos foram reproduzidos pela revista Veja desta semana.
No dia 13 de setembro, Luiz Antônio conversa com seu pai, Darci Vedoin, sobre as negociações. Eles estranham o fato de que os petistas querem que a entrega dos documentos seja feita em Cuiabá (MT), mas o pagamento do R$ 1,75 milhão seja feito em São Paulo. Os dois cogitam até desistir da troca. “Eu ‘tô’ com um certo receio. Porque alguma coisa tá tramada em cima disso”, diz Darci.
No dia seguinte, Luiz Antônio conversa com Valdebran Padilha, empreiteiro e arrecadador de campanha do PT em Mato Grosso. O petista cobra a entrega de uma fita que comporia o dossiê. Vedoin dá a entender que quer ver antes o dinheiro – a palavra não é citada. “Não vou mais fazer papel de palhaço”, diz. Minutos depois, em outra ligação, Valdebran avisa que metade do dinheiro já havia sido paga.
Num telefonema às 16h27, entra em cena o então diretor de Gestão de Risco do Branco do Brasil, Expedito Veloso. Ele, que também está em Cuiabá, pede a Luiz Antônio pressa na entrega do DVD negociado. Queria checar o conteúdo antes de embarcar para São Paulo, o que acabou não acontecendo. “Você leva isso aqui. Não vai ter problema”, afirma Luiz Antônio.
À noite, após o diretor chegar a São Paulo e constatar que o DVD estava vazio, Valdebran liga para Luiz Antônio para cobrá-lo: “Vou falar ‘procê’, minha cabeça ‘tá’ pra estourar já, cara.”
Pouco depois, nova ligação entre eles. Luiz Antônio diz que mandará o resto do material pelo tio, Paulo Roberto Trevisan. Valdebran informa que está no hotel Ibis. “Pelo amor de Deus, cara, eu não agüento mais, não ‘tô’ nem dormindo com esse trem lá. Hoje eu nem saí daqui.”
Trevisan foi preso pela Polícia Federal quando tentava embarcar de Cuiabá para São Paulo. Valdebran foi detido no quarto do hotel em São Paulo, próximo a Congonhas.