Os depoimentos na Polícia Federal dos três envolvidos na tentativa de compra do dossiê que pretendia incriminar políticos de oposição ao governo foram “uma sucessão meticulosa, articulada e tramada para ocultar a verdade dos fatos”, disse o procurador da República de Mato Grosso Mário Lúcio Avelar. Ele acompanha a Polícia Federal nas investigações sobre o dossiê.
Segundo Avelar, a versão de Jorge Lorenzetti, Expedito Afonso Veloso e Oswaldo Bargas, ex-assessores da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “foi contraditória, sem revelar a origem do dinheiro apreendido, numa tentativa de desmentir a prova material dos fatos”. Nenhum deles, conforme disse o procurador, revelou “a origem do dinheiro apreendido ou tampouco assumiu responsabilidade pela compra do dossiê”.
Em entrevista durante a madrugada deste sábado (23), Avelar contou que “os depoentes tentaram passar a idéia de que houve uma negociação para se conseguir os documentos, mas que não envolvia um acordo em dinheiro para que o empresário Luiz Antônio Vedoin, empresário acusado de ser operador do esquema de venda superfaturada de ambulâncias através de emendas parlamentares, fizesse um depoimento que comprometesse políticos do PSDB a uma revista de circulação nacional.
Conforme o procurador, eles disseram que “deixaram de negociar com terceiros, que ofereceram quantias elevadas, para conceder entrevista a uma revista, cedendo material para fins políticos, sem nenhuma contraprestação de recursos”. Mário Lúcio Avelar disse que “o objetivo da Justiça é continuar trabalhando para identificar a origem de R$ 1,7 milhão apreendidos”.
O primeiro depoente foi Jorge Lorenzetti. Segundo Aldo de Campos Costa, advogado dele, Valdebran Padilha (filiado ao PT de Mato Grosso, preso pela PF com dinheiro durante a negociação do dossiê) teria ido ao comitê de campanha oferecer documentação contra o PSDB. De acordo com o advogado, Lorenzetti mandou, então, Expedito Veloso e Gedimar Passos (agente aposentado da PF) a Cuiabá para analisar a autenticidade dos documentos e se interessavam ao PT.
Lorenzetti teria dito no depoimento que em nenhum momento autorizou a compra do dossiê. Ele inocentou também o presidente da República e o ex-coordenador da campanha, Ricardo Berzoini.
O advogado revelou também o destino final do dossiê, se não tivesse sido apreendido pela PF. “Os documentos seriam entregues em São Paulo, para o senhor Hamilton”. Ele se referia a Hamilton Lacerda, que era o coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo e pediu afastamento na última quarta-feira (20).
O ex-diretor de gestão de risco do Banco do Brasil Expedito Veloso afirmou na Polícia Federal que foi a Cuiabá tratar de depósitos “na conta de pessoas indicadas por Abel Pereira”, empresário que teria vencido licitações do Ministério da Saúde na época em que o ministro era Barjas Negri, no governo Fernando Henrique Cardoso. Negri foi substituto de José Serra, que atualmente concorre ao governo paulista, pelo PSDB.
O ex-secretário executivo do Ministério do Trabalho, Oswaldo Bargas, responsável pelo capítulo de trabalho e emprego do programa de governo de Lula, foi citado na negociação em nota divulgada pela revista Época. Segundo a nota, no encontro com o repórter estavam presentes Bargas e Lorenzetti, analista de risco e mídia da campanha. Ambos teriam checado o interesse da publicação em produzir matérias com base em documentos com denúncias contra políticos. A negociação, segundo Época, foi interrompida e uma entrevista com Vedoin foi publicada na revista IstoÉ na semana seguinte.
Bargas deixou a sede da Polícia Federal na madrugada deste sábado, onde prestou depoimento durante três horas e meia. Ele e seu advogado, Frederico Donati, saíram do local sem dar declarações à imprensa.