O Congresso Nacional instalou ontem a CPI das Sanguessugas e já estabeleceu, na primeira sessão, uma diretriz polêmica. Segundo o presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), os parlamentares supostamente envolvidos no esquema não devem ser ouvidos. A intenção é se debruçar sobre as provas já colhidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
“Sempre tive visão crítica de algumas CPIs que não tinham compromisso com investigação séria e profunda, mas com audiências infindáveis e que não levavam a nada”, afirmou Biscaia. Segundo ele, ouvir os parlamentares acusados é uma função posterior à CPI, caso os envolvidos venham a ser julgados pelo Conselho de Ética.
A CPI, prevista para durar 60 dias, foi criada no rastro do escândalo da venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras. Segundo a PF, congressistas alocavam verbas no Orçamento da União para que as prefeituras adquirissem os veículos da Planam, apontada como a cabeça do esquema.
O número de parlamentares envolvidos varia desde o surgimento do caso. A ex-funcionária do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, que seria o braço da quadrilha no Executivo, disse que eram 170, mas só nominou 81. Em outro depoimento, disse que 283 parlamentares mantinham algum tipo de contato com a Planam.
A sessão de ontem da CPI foi marcada por suspeitas de que envolvidos estejam agindo para abafar as investigações. A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) questionou a escolha de Amir Lando (PMDB-RO) para relator: “Ouvi rumores de que o senador Ney Suassuna esteja trabalhando para impedir a apuração de certas coisas”, disse, referindo-se ao fato de que dois assessores de Suassuna foram presos na operação da PF.
Como líder da bancada do PMDB, Suassuna foi responsável pela indicação dos quatro senadores peemedebistas na comissão. “Não tenho compromisso com ninguém, meu compromisso é com a verdade”, disse Lando, que presidiu, no ano passado, a CPI do Mensalão –que terminou sem relatório.
Além do relator, outra questão abordada foi o fato de que três titulares da CPI foram citados no primeiro depoimento de Maria da Penha Lino como tendo envolvimento com o esquema. “Vamos verificar o que há de concreto, daí o regimento estabelece regras de suspeição e impedimento, e elas devem ser seguidas”, disse Biscaia.
O único dos três a aparecer ontem foi Inaldo Leitão (PL-PB). “Nunca tive e não tenho qualquer tipo de relação ou contato com os integrantes da quadrilha das ambulâncias. Sequer os conheço. A lista divulgada pela quadrilheira Maria da Penha é mentirosa”, disse.