O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, negou nesta segunda-feira que o encontro que teve em Brasília com o empresário Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, tenha ocorrido com a anuência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Foi uma conversa. Não entendo porque tanta celeuma. O importante é que essas conversas sejam impessoais, transparentes e públicas. Não tratei de coisas que não podiam ser tratadas”, disse Bastos em entrevista a jornalistas após participar de cerimônia no Ministério da Justiça.
Segundo o ministro, Dantas o procurou para entregar uma carta na qual afirma não ter pedido investigação sobre a existência de contas bancárias no exterior do Lula e de outras autoridades. A suposta existência das contas foi divulgada na semana passada pela revista Veja. Dantas também negou, segundo Bastos, ter passado informações a qualquer órgão de imprensa. “Eu disse a ele que a Polícia Federal abriu investigação sobre esse fato e que ela será feita de maneira séria até as últimas conseqüências”, afirmou.
O ministro confirmou na tarde desta segunda-feira que se encontrou com o banqueiro Daniel Dantas no último dia 17, conforme afirmou a revista Veja. Bastos, porém, negou qualquer tipo de acordo com Dantas e disse que a reunião foi marcada a pedido do banqueiro para que ele pudesse entregar uma carta ao ministro.
Na carta, divulgada hoje à imprensa, Dantas nega ter repassado qualquer informação de um possível “dossiê” à imprensa. “Em respeito à verdade e a Vossa Excelência, asseguro-lhe que não sou responsável, não forneci informações e nem tive participação na reportagem divulgada pela revista Veja”, diz a nota.
Em entrevista coletiva nesta tarde, Bastos afirmou ainda que levou três testemunhas consigo ao encontro. São eles os deputados Heráclito Fortes (PFL-PI), Sigmaringa Seixas (PT-DF) e José Eduardo Cardozo (PT-SP). “Levei (as testemunhas) porque achei que seria importante mostrar a lisura e a impessoalidade do encontro”, afirmou Bastos.
Como resposta a Dantas, o ministro afirmou que a Polícia Federal já tinha aberto uma investigação contra o banqueiro e que a mesma seria levada a diante. Além disso, Bastos negou qualquer envolvimento do presidente Lula no encontro entre os dois.
De acordo com a revista Veja desta semana, o governo teria fechado um acordo com Dantas de que não colocaria a Polícia Federal nas investigações desde que o banqueiro e seu investigador “fechassem a boca”. Dantas também deveria “segurar seus sócios e cúmplices, caso eles viessem a ser convocados a depor na CPI dos Bingos”.
Na semana passada, a revista publicou um dossiê supostamente elaborado por Dantas que comprovaria a existência de contas em paraísos fiscais no exterior nos nomes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dos ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, e também de Thomaz Bastos.
A edição deste sábado da revista Veja admite que o “Dossiê Dantas”, divulgado na semana passada, é falso. O semanário, entretanto, criticou a postura do governo em relação à notícia. “Em vez de apurarem o conteúdo da mensagem, insurgiram-se contra o mensageiro”, ataca a revista. Logo após a publicação, o presidente Lula, ainda em Viena, chamou a reportagem de criminosa. Esta semana, a revista afirma que Dantas teve um encontro com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos para “celebrar uma trégua”.
De acordo com Veja, “o governo não colocaria a Polícia Federal na cola do banqueiro desde que Dantas e seu investigador fechassem a boca – e que o banqueiro segurasse seus sócios e cúmplices, caso eles viessem a ser convocados a depor na CPI dos Bingos. Quando sair a versão oficial do encontro, ela com toda a certeza será candidamente reproduzida sem contestação pelos crédulos, ingênuos e aqueles com interesses financeiros em agradar ao governo”.
O semanário afirmou, na última semana, ter recebido do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, por meio de um ex-espião da agência de investigações Kroll, documentos com supostas contas, em paraísos fiscais, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de ministros e ex-ministros de seu governo, do senador Romeu Tuma e do diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda.
“Lula fez a Veja o mais destemperado ataque verbal já desferido por um presidente contra um órgão de imprensa desde a redemocratização”, revidou a publicação.