O futuro do ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, deve ser decidido na tarde desta terça-feira, 22. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com Rondeau no Palácio do Planalto para discutir se o minstro continua no cargo, em função das denúncias de suposto envolvimento na máfia das fraudes em obras públicas.
Rondeau é apontado pela Polícia Federal como suspeito de ter recebido, no ministério, R$ 100 mil de propina do empresário Zuleido Veras, dono da Construtora Gautama.
Zuleido foi preso com outras 46 pessoas na semana passada pela Operação Navalha da Polícia Federal, todos sob a acusação de organizar uma máfia que fraudava licitações de programas governamentais como o Luz para Todos. O grupo se preparava, agora, para atacar também os empreendimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a menina-dos-olhos do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Possíveis saídas
Segundo fonte do governo, Lula teria conversado por volta das 13 horas com os senadores José Sarney e Renan Calheiros – padrinhos da indicação do ministro – sobre o caso Silas Rondeau. A alternativa mais viável defendida pelo PMDB, segundo a fonte, seria adotar para Silas Rondeau a mesma saída que o ex-presidente Itamar Franco adotou para o caso de seu então ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves.
Alvo de denúncias, Hargreaves se licenciou do cargo retornando ao mesmo após a apuração das denúncias. Nesse caso, o Ministério seria ocupado interinamente pelo secretário-executivo Nelson Hubner. As denúncias contra Rondeau não tem sido consideradas como verídicas pela cúpula do PMDB. “Um envelope que o funcionário segurou com dois dedinhos não teria R$ 100 mil”, comentou um parlamentar do PMDB, desacreditando a denúncia.
A alternativa de licença do ministro atende a uma preocupação do PMDB com uma possível perda de um ministério do partido na Esplanada. Na última segunda-feira, pelo menos três nomes do PT já circularam no meio político como possíveis substitutos de Silas: Jorge Samek, presidente da Itaipu; Valter Cardeal, presidente da Eletrobrás, e Marias das Graças Foster, presidente da BR Distribuidora.
Embora o caso Silas Rondeau não tenha chegado a seu desfecho, pelo menos uma mudança já produziu nos ministérios. A ordem é não deixar mais ninguém subir, mesmo que pela entrada privativa, sem se identificar. Um ministro comentou que muitos deputados têm restrições a apresentar sua identificação e de seus acompanhantes. Isso agora passará a ser exigido.
Provas
No Ministério de Minas e Energia a situação de Rondeau é considerada “crítica” porque as provas da PF sobre o envolvimento do assessor especial do ministro Ivo Almeida Costa são consideradas “consistentes” e “demolidoras”.
O envolvimento de Ivo, que trabalha há mais de uma década na condição de homem de confiança de Rondeau, com o lobista da Gautama Sérgio Sá é considerado comprometedor. Nas gravações, Sérgio Sá presta contas ao empreiteiro Zuleido Veras de assuntos tratados com assessores do ministério, que, depois, são confirmados por escutas telefônicas, documentos, fotos e movimentações financeiras. Segundo fontes da PF, é improvável que Sérgio Sá estivesse blefando e usando o nome do ministro para se promover e mostrar serviço.
Clã Sarney
Ao dar posse ao engenheiro eletricista Silas Rondeau Cavalcante Silva como ministro de Minas e Energia, em julho de 2005, o presidente Lula afirmava: “O Silas tem 30 anos de experiência no setor elétrico. Foi chamado não por minha amizade, ou pela do (José) Sarney ou do Renan (Calheiros), mas por sua competência.”
Havia motivos para essa explicação. Aos 54 anos, esse maranhense de Barra do Corda, pai de dois filhos e flamenguista desde criancinha é, além de grande conhecedor de sua área, um curinga importante nos movimentos de Sarney – e, mais recentemente, também de Renan. Por três décadas, desde que se formou pela Universidade Federal de Pernambuco, ele foi subindo de cargos médios para o topo em órgãos como a Companhia de Eletricidade do Maranhão, a Manaus Energia e a Eletronorte. Presidiu a Eletrobrás de 2004 a 2005, quando sucedeu Dilma Rousseff no ministério.
Sua fidelidade ao clã Sarney o levou ao Maranhão, na campanha de 2006, para inaugurar um projeto do Luz para Todos. Repetiu a dose no Amapá, onde a vitória de Sarney parecia ameaçada. Sua escolha foi, ela própria, uma clara recompensa a Sarney: na ocasião, o ex-presidente não havia conseguido emplacar no ministério, como prometido, a ex-governadora Roseana Sarney.