Os estados que lideram o ranking de homicídios na juventude também estão entre os que apresentam os maiores índices de jovens que não trabalham nem estudam. Esse é o resultado do cruzamento de duas pesquisas realizadas pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) sobre a realidade de brasileiros com idade entre 15 e 24 anos. Uma sobre violência, apresentada nesta semana, e outra sobre o desenvolvimento juvenil, de 2006, com base nas Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, do IBGE.
De acordo com o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, divulgado esta semana pela OEI, em 2004, os estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Distrito Federal e Amapá foram os estados que mais registraram casos de assassinatos nessa faixa etária. Os dois primeiros, por exemplo, possuem uma taxa de mais de 100 mortes registradas para cada grupo de 100 mil jovens. Ou seja, um em cada grupo de mil jovens tem uma morte violenta.
Ao fazer um cruzamento da violência com o resultados do Relatório de Desenvolvimento Juvenil, divulgada em 2006, é possível mostrar que esses estados também apresentam altas taxas de desocupação de jovens. Pernambuco e Amapá, por exemplo, possuem duas das dez maiores taxas de jovens que não trabalham ou estudam – 23,1% e 22,7%, respectivamente. Rio de Janeiro, entre os mais violentos, não está na lista com mais jovens desocupados. Contudo, todos os estados mais violentos, com exceção do Espírito Santos, têm um número de desocupados acima da médica nacional, que é de 19,8%.
Por outro lado, estados com menores índices de jovens que não freqüentam a escola nem trabalham possuem baixos números de homicídios juvenis. É o caso de Santa Catarina, que ocupa o último lugar do ranking de assassinatos de jovens e também o que possuía, em 2003, a menor taxa de desocupação nesse segmento da população, conforme o estudo sobre o desenvolvimento juvenil.
Para o autor das duas pesquisas, o sociólogo Julio Jacobo, existe uma relação entre desocupação e violência na juventude, que pode ser explicada por uma maior vulnerabilidade dos adolescentes ociosos. “Qual é a ocupação que se espera do jovem, que estude ou trabalhe ou ambas das coisas. Que não trabalhe não é necessariamente ruim, pode ser bom, porque esse jovem pode ter a possibilidade de estudar. O problema não é que não trabalhe, mas que não trabalhe e [não] estude. Aí você vai encontrar a raiz do problema”, argumentou o sociólogo.
Jacobo explicou, porém, que o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros não analisou as causas do número elevado de homicídios entre jovens. Segundo ele, esse será o objetivo de outro levantamento, que deve ficar pronto em três meses. Segundo o oficial de programas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Mario Volpi, em 2005, houve cerca de 5,5 mil assassinatos de crianças e adolescentes, contra aproximadamente 800 homicídios cometidos por jovens. “Eles são muito mais vítimas do que autores das infrações”. Para ele, a desocupação não é um “componente forte” para explicar o fato de os jovens terem se tornado as principais vítimas da violência no país.
“Eu diria que o desemprego é mais uma conseqüência da falta de investimento na educação do que causa da criminalidade. Não creio que a oferta de empregos para adolescentes seria uma garantia de redução da criminalidade, agora uma oferta de ensino básico, fundamental é médio, consistente, baseado em valores, aprendizagens, conteúdos que fazem sentido para a vida, pode de fato representar uma oportunidade maior para o adolescente se inserir na sociedade”, disse Volpi.
No Brasil, entre 1994 e 2004, os homicídios de jovens aumentaram de 11.330 para 18.599, um aumento de 64,2%, o que é superior à média de mortes da população em geral, que cresceu 48,4%. A média nacional dos jovens desocupados, segundo a Pnad/IBGE, é alta, de 19,8%.