Mato Grosso foi o assunto principal das discussões no Woodrow Wilson Center, nesta quinta-feira, em Washington. Produtores rurais do estado, ambientalistas e o governador Blairo Maggi tiveram a oportunidade de mostrar para um público composto por formadores de opinião, como o estado de Mato Grosso enfrenta o desafio de aumentar a produção agrícola e, ao mesmo tempo, preservar as áreas verdes. Segundo Maggi, que abriu o debate, há ferramentas disponíveis hoje em dia para aumentar a produtividade sem avançar em áreas intocadas. “Por exemplo, nos últimos vinte anos a produção de grãos no Brasil cresceu 140% e o uso de terra apenas 30%. Isso mostra que o investimento em novas tecnologias é fundamental para avançar o desenvolvimento sustentável”, disse.
Maggi ressaltou que, hoje, os produtores de Mato Grosso têm plena consciência de que a preservação de áreas verdes é fundamental para manter a produção em alta. “A realidade de hoje é muito diferente da realidade de trinta anos atrás. Ouve uma ocupação da região amazônica nesses anos e temos que ter o cuidado de levar os benefícios que o desenvolvimento econômico propicia sem alterar o meio ambiente. É um enorme desafio”, destacou. Os produtores de Mato Grosso foram representados pelo vice-presidente da Aprosoja, Ricardo Arioli, pelo presidente da Famato, Rui Prado e pelo diretor da ONG Aliança da Terra e também produtor, John Carter.
Para Arioli, há um enorme mito no exterior de que a soja é uma séria ameaça para o bioma amazônico. “Esse mito deve ser mostrado. A grande parte da produção da soja em Mato Grosso está na área do Cerrado e uma outra parte na área de transição entre o Cerrado e a Amazônia”, disse ele durante a apresentação. Arioli também mostrou que nas cidades onde a soja está presente em Mato Grosso os indicadores de desenvolvimento humano são melhores. “Quando vocês da platéia forem morar em Mato Grosso procurem as cidades produtoras de soja”, brincou o presidente da Aprosoja.
Apesar dos avanços que os produtores do estado conseguiram atingir nos últimos anos, Mato Grosso ainda precisa vencer alguns desafios. “Sem dúvida precisamos aumentar a produtividade da nossa pecuária para avançar ainda mais com o desenvolvimento sustentável”, afirmou Prado, presidente da Famato. Maggi lembrou que o estado tem como meta colocar cinco cabeças de gado por hectare. “Hoje, temos uma cabeça por hectare. É um número preocupante”, contou.
A iniciativa de trazer o debate sobre agricultura e desenvolvimento sustentável para o centro de decisões políticas dos Estados Unidos é fundamental e deverá se tornar ainda mais freqüente, segundo Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute, do Woodrow Wilson Center. “A visão privilegiada do governador Maggi, que conhece bem a área pública e privada, influencia bastante o modo como os americanos encaram essas questões. Com a presidência do Obama, o tema vai ganhar relevância e o Brasil será pressionado cada vez mais para apresentar bons resultados na área ambiental”, relatou.
Já Annie Petsonk, da ONG Environmental Defense Fund, e especialista em direito ambiental, afirmou que o governador Maggi quebrou vários paradigmas do debate ambiental que foram decisivos para mudar a posição do governo federal em relação às metas de emissão de CO2. “Por vinte anos os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento ficavam discutindo de quem era a culpa dos problemas ambientais. Maggi teve um papel importante ao colocar a questão do desmatamento no centro das discussões sobre aquecimento global. Hoje vemos que o Governo Federal estabeleceu metas de redução de emissão de CO2 por desmatamento, o que é importantíssimo para que os países possam chegarem a um acordo global”, concluiu.