As medidas que a área econômica do governo tomou ontem, na área do crédito, foram oportunas, com a criação de facilidades para os exportadores, em face da conjuntura econômica mundial, segundo avaliação do diretor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais e diretor da Associação Keynesiana Brasileira, Flávio Resende.
A decisão de expandir o crédito foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, depois de queda recorde nos negócios da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Ontem, o pregão chegou a ser interrompido duas vezes, para acalmar os investidores, e acabou fechando com queda de 5,43%..
O governo decidiu também usar parte das reservas internacionais (hoje situadas em torno de US$ 200 bilhões) para a compra de títulos que estão no mercado. “Muito embora o Brasil não esteja no centro do problema que envolve o sistema financeiro mundial, que tem reflexos mais fortes nos Estados Unidos, onde está a origem da crise, e na Europa, o crédito aos exportadores, que em grande parte é tomado no exterior, sofre os efeitos de forma mais imediata. Esses efeitos acabam se alastrando também sobre a oferta interna de dinheiro, que vai secando no Brasil como em outros países”, avalia Flávio Resende.
Em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional, o professor afirmou que os Estados Unidos estão entrando em recessão e a tendência é de que os países europeus sigam o mesmo caminho.
O efeito de um quadro de recessão no exterior poderá resultar na queda de preços das mercadorias (commodities), afetando de forma mais sensível o Brasil, pela queda de lucro de suas exportações. Essas dificuldades, a nível interno, podem forçar o BC a aumentar mais ainda a taxa de juros anual (Selic).
O dólar, então, continuaria igualmente subindo, agravando a inflação, afetando a oferta de emprego, o salário e a renda da população. Flavio Resende lembra que a crise financeira internacional já trouxe como efeito a redução nos prazos para financiamento de automóveis e outros bens de consumo no país.
Segundo ele, a situação atual provoca correria dos operadores de mercado que negociam títulos e ações, que “ficam como se fossem baratas tontas”, sem conseguir saber o futuro, que fica parecendo incerto. A convicção em torno de negócios é que margina o equilíbrio no trabalho das bolsas, porque em economia se trabalha a partir de perspectivas, lembra ele.