A senadora mato-grossense Serys Slhessarenko (PT) que teve sua trajetória política na Assembleia marcada pela oposição, transparência e rigor na apuração de quaisquer denúncias contra governo ou integrantes de cargos eletivos, agora está tendo outra postura. Hoje, a vice-presidente do Senado, atendendo orientação do partido, ajudou a sepultar nova tentativa de investigar supostas irregularidades praticadas pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB).
“Não recebo o expediente, por incabível, nos termos da nota informativa em anexo”, respondeu Serys Slhessarenko (PT-MT) ao negar o recurso interposto pela oposição contra o arquivamento pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar de representações contra o presidente da instituição, José Sarney. O recurso tinha o apoio de 11 senadores, filiados a sete partidos, e pedia a reavaliação pelo plenário do Senado do arquivamento das acusações. Serys Slhessarenko amparou seu despacho em nota informativa assinada pelo Consultor Legislativo Gilberto Guerzoni Filho, o qual sustentou que não há, no Código de Ética e Decoro Parlamentar, a previsão expressa de recurso para o Plenário da decisão que determinar a inadmissibilidade de representação ou denúncia contra senador.
De acordo com a nota informativa, a decisão pelo arquivamento das acusações contra Sarney consistiram numa decisão monocrática do presidente do Conselho, contra a qual cabia recurso apenas ao Plenário do colegiado. “Ou seja, o tema se esgota no âmbito do próprio Conselho de Ética e Decoro Parlamentar”, diz Gilberto Guerzoni Filho.
O consultor ampara seu parecer em diversos outros dispositivos legais que, de acordo com sua análise, afirmam que esses casos não extrapolam os limites do Conselho de Ética. O consultor também diz que, se consultado o Regimento Interno do Senado, também se verificará que não existe a previsão de recurso ao Plenário da Casa contra decisão do Conselho de Ética.
Outra razão que amparou a decisão de Serys Slhessarenko foi a própria natureza administrativa desse tipo de processo. A nota informativa diz que, nos procedimentos judiciais ou administrativos, há um rígido regime para assegurar o processo legal, como o direito a ampla defesa, contraditório e vedação de provas ilícitas.
Foi entendido que a decisão que arquivou as acusações contra Sarney foram tomadas por um tribunal singular – o presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ) – e revista por outro – o próprio Conselho. A nota informativa destaca que, no que se refere ao devido processo legal, “buscar recurso não previsto na norma processual é, exatamente, desatender ao princípio”.
O senador Pedro Mimon (PMDB-RS) foi um dos que se manifestou e não deixou de expor sua decepção com a atitude da mato-grossense.