A velha fome do PMDB por cargos está dificultando a formação do novo secretariado do governador Silval Barbosa. A interferência principal – e já devidamente prevista – é do presidente do partido, o deputado federal reeleito Carlos Bezerra. Em recente encontro no Palácio Paiaguás, o parlamentar seguiu a risca seu histórico: pediu a indicação de três secretários, para abrir a conversa. Fontes palacianas revelaram que o governador rechaçou o pedido, alegando a necessidade de ter que compor o Governo com outros partidos aliados, que o ajudaram na reeleição.
Apesar da recusa, Bezerra não se fez de rogado. Alegou que o Governo é grande e tem condições de abrigar a todos. Adepto a tese da instrumentalização partidária, o parlamentar federal observou no encontro que é o momento do PMDB se fortalecer como sigla e se preparar para os próximos embates eleitorais, daqui a dois anos. “O Governo é meu e sou eu quem vou fazer as indicações” – disse Silval ao político.
O PMDB do governador se aliou a 11 partidos para garantir a eleição de Silval em primeiro turno. Todos querem cargos no primeiro escalão, entendem que foram fundamentais na vitória. Além disso, o próprio governador tem dito constantemente que quem o ajudou a vencer a eleição tem de ajudá-lo a governar Mato Grosso.
Não bastasse isso, o Governo é relativamente pequeno: 14 secretarias. Pode subir para 15, com o desmembramento da Justiça para Secretaria de Segurança. Silval, no entanto, não abre mão de três pastas: Fazenda, Planejamento e Comunicação Social. Além disso avisa que a Casa Militar e Cultura serão pessoas que trabalham nestas áreas, ou seja um militar e alguém diretamente ligado a cultura mato-grossense. Isso sem contar que a Secretaria de Trabalho e Assistência Social já tem dona, a esposa do governador, Roseli Batista.
A ação de Bezerra em torno do Governo é fato concreto. Foi assim na Prefeitura de Rondonópolis: a interferência foi tamanha que o próprio afilhado político José Carlos do Pátio não resistiu e os dois acabaram rompendo diante das divergências políticas.
Além de cargos no Governo, o parlamentar-dirigente ainda trabalha para garantir uma boa fatia no Governo Federal, aproveitando-se das boas relações com o vice-presidente eleito Michel Temer. “Haverá surpresas e uma delas será a indicação de mais dois cargos para Mato Grosso, um do PMDB e outro do PT que provavelmente deverá ser o deputado e vice-líder do Governo, Carlos Abicalil” – disse Bezerra, segundo o jornal “A Gazeta”. Abicalil apoiou Bezerra na reeleição.
Atuando na área que mais se sente a vontade, Bezerra previu ainda, segundo o jornal, que Rodrigo Figueiredo deve continuar no Ministério das Cidades e Luiz Antônio Pagot como diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (DNIT) – este na cota pessoa da própria presidente eleita Dilma Rousseff. O ex-secretário do Centro-Oeste, Totó Parente, provavelmente para uma diretoria da Petrobras na cota do senador Lindberg Farias (PT) e do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Parente foi um dos assessores de Bezerra.