A CPI da Saúde da Assembleia Legislativa esteve pela segunda vez no Pronto-Socorro e Hospital Municipal de Cuiabá. Os deputados estaduais Sérgio Ricardo (presidente) e Walace Guimarães (relator), acompanhados por uma equipe formada por técnicos e auditores da Casa e membros do Tribunal de Contas, encontraram duas realidades: a nova ala de entrada, destinada a atendimentos de urgência e emergência totalmente reformada – com sistema de climatização, consultórios, áreas específicas para crianças – e ampla sala para estabilização de traumas, ainda a espera de finalização das obras e novos equipamentos e que deverá entrar inteiramente em funcionamento em 10 dias.
Entretanto, no box de emergência, que funciona aos fundos da unidade, foi constatado uma situação caótica "É nítida a absoluta falta estrutura física adequada para o atendimento dos pacientes, em geral vítimas de acidentes e da violência urbana".
"Sabemos que os funcionários e a diretoria do pronto-socorro estão fazendo o que podem, mas as condições são desumanas. Se a CPI da Saúde pudesse interditaria agora o box de emergência, levaria essas pessoas para outro lugar, com melhores condições de atendimento", comentou o presidente da CPI, deputado Sergio Ricardo.
A inspeção feita pela equipe técnica da CPI da Saúde iniciou por volta das 9 horas, quando foi protocolado um oficio reiterando solicitação de informações que ainda não foram respondidas pela Prefeitura Municipal de Cuiabá. Posteriormente, foram checados diversos setores. Foram entrevistados funcionários das áreas financeira, de recursos humanos, da comissão de ética, de prontuários e de infecção hospitalar.
Os deputados Sérgio Ricardo e Walace Guimarães iniciaram a visita acompanhados pelo secretário municipal de Saúde, Maurélio Ribeiro e do diretor geral do PSHM, Jair Gimenez Marra. No setor frontal, recém-inaugurado, já está em funcionamento a Ala Amarela, onde ficam pacientes graves em fase de estabilização de trauma. Ao todo, a unidade possui 20 leitos- seis pacientes, atualmente, precisam de vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e aguardam a liberação via Central de Regulação.
"O que vamos conseguir com essa reforma é que o pronto-socorro atenda realmente emergências e para isso estamos ´reforçando´ os 63 Programas de Saúde da Família e os 22 Centros de Saúde existentes na capital. O ideal é que se chegue a 100 unidades ao todo", explicou o parlamentar.
"Queremos conquistar a confiança do paciente, para ele saber que ele vai chegar aqui no pronto socorro e será bem atendido. Mas é preciso de esforços das três esferas: município, estado e União para que o PS não seja sobrecarregado, uma vez que o PS é um centro de referência em atendimento de urgência e emergência de média e alta complexidade para o Estado. Cuiabá não tem obrigação de atender todo o Estado, nós prestamos serviços e temos o direito e dever de cobrar dos municípios do interior pelos serviços. Passaremos agora a cobrar com mais veemência", explicou o secretário.
Enquanto a parte nova do PS ainda não está totalmente funcionando, os 10 mil pacientes do SUS que passam mensalmente no PS de Cuiabá vivem momentos de agonia no box de emergência. "Estou com meu filho baleado com três tiros desde ontem aqui é só conseguimos que fizessem um raio-x. Agora levaram ele pra a UTI. A gente tem que ficar atrás de tudo", dizia o servente de pedreiro, Antônio Lemes.
A dona de casa Edna Tebaldi e suas duas irmãs aguardam há três dias para fazer um exame. "Vi gente no chão de qualquer jeito, parecia lixo humano. Estou sendo atendida, mas ninguém merece passar por isso aqui", disse.
"Estamos vendo dois ambientes no PS. Um que foi reformado e é o ideal para a saúde pública, e outro catastrófico. Percebemos uma mudança grande entre a primeira visita que fizemos no início do ano e agora. Até mesmo os funcionários estão trabalhando melhor, mas não podemos maquiar a situação. É preciso resolver de uma vez por todas a situação lamentável em que vive o PS de Cuiabá, com a completa reforma, ampliação e novos equipamentos para o setor que funciona no subsolo e no hospital como um todo", comentou Sérgio Ricardo.
O relator da CPI da Saúde, deputado Walace Guimarães, complementou dizendo que o caso do PS de Cuiabá será resolvido com investimentos que devem sair da União, principalmente.
"É preciso investimentos constantes, para que o Programa Fila Zero, que faz parte do Programa de Ação na Saúde do Governo do Estado, possa ser implementado efetivamente e novos contratos com hospitais filantrópicos e particulares acabem de vez com as filas de espera por atendimento. O PS não pode ficar tão lotado como historicamente sempre foi. Caso contrário sempre haverá um clima de caos na saúde pública. O secretário de Saúde de Cuiabá disse que apresentará o projeto de reforma das alas de baixo do PS no dia 1 de julho ao prefeito Francisco Galindo, com recursos previstos inicialmente em cerca de 1,5 milhão de reais", finalizou Walace.
A equipe técnica da CPI da Saúde deverá concluir nesta sexta-feira seus trabalhos de levantamento de informações para subsidiar o relatório final da comissão.