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PCC tinha ligação em casos de venda de sentenças em Mato Grosso

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A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) tinha ligação com uma das quadrilhas envolvidas no esquema de venda de sentenças no Judiciário mato-grossense. É o que revelam as investigações da Polícia Federal feitas por meio de interceptações telefônicas. A lobista Ivone Reis Siqueira aparece como “parceira” do PCC juntamente com a advogada Célia Cury, esposa do desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, José Tadeu Cury.

Em troca do apoio da facção, um dos integrantes do PCC, preso em Cuiabá, deveria receber o habeas corpus, articulado por Ivone junto ao Judiciário. Conforme o inquérito da operação Asafe ao qual A Gazeta teve acesso, além da comercialização de decisões judiciais, a organização também desviava quantias milionárias de contas bancárias de pessoas falecidas ou identificadas como alvos fáceis, bem como pensionistas e aposentados por meio de “laranjas”.

Trecho do inquérito revela o envolvimento da facção. “Ivone chama a atenção da Polícia Federal ao afirmar que estaria monitorando todos os envolvidos e que o gerente do banco teria segurado a liberação do valor, em função de sua relevância e por conhecer o destinatário. Ivone reafirma que o pessoal trabalha para o PCC”, diz trecho do inquérito.

Pelo que consta no relatório, o gerente seria “especialista” nesse tipo de crime, que consiste no saque ilegal de contas a partir de documentos falsificados do titular. Uma das vítimas seria uma aposentada que tem idade entre 74 e 76 anos e supostamente dona de R$ 4,6 milhões, no entanto, conforme Ivone disse nas interceptações telefônicas, os valores devem chegar a R$ 181 milhões.

Nas negociações com a pessoa que faz o intermédio com o presidiário, Ivone frisou que possui influência junto ao Judiciário mato-grossense, citando como reforço o nome de Célia Cury. Também participa do caso o advogado Max Weizer. Para sacar o dinheiro da conta, um dos “comparsas” de Ivone, especificamente nesse caso, diz que foi feita uma procuração falsa que dá ao “laranja” a autonomia para retirar os valores e ainda carteira de identidade, segundo a PF, feita na Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e ainda o CPF.

As escutas telefônicas mostram que, além de saques fraudulentos de contas inativas, a organização atuava em parceira com pessoas ligadas à instituições bancárias com o intuito de fazer empréstimos em nome de empresas “frias” e pessoas “laranjas”.

Conforme o inquérito, cada um dos 4 integrantes do esquema, incluindo o gerente do banco, deveria receber 5% do valor liberado. Uma empresa em questão é de propriedade de Max Weizer, que também estaria em nome de laranja. Com a ajuda da cúmplice Célia Cury, Ivone teria tentado sacar R$ 27 milhões da conta, que há 9 anos não havia sido feita nenhuma movimentação.

Célia Cury – A advogada Célia Cury quebrou o silêncio pela primeira vez em entrevista A Gazeta e disse que tudo não passa de imaginação e invenção. Esposa do desembargador aposentado José Tadeu Cury, ela é apontada como o centro do esquema de venda de sentenças no Judiciário de Mato Grosso.

Dizendo-se indignada com a repercussão da operação Asafe, deflagrada no mês passado pela Polícia Federal, Célia Cury afirmou que estuda a possibilidade de pedir o arquivamento do inquérito com o argumento de que, mesmo correndo em segredo de justiça, “vazou” para a imprensa.

Ela disse que continua exercendo a função de advogada e que não houve nenhuma comprovação de que cometeu crime. “Sou advogada há 36 anos e nunca houve nada contra mim. Inventaram isso”. Informou que está em viagem a São Paulo e assim que voltar vai analisar a medida contrária ao inquérito.

Interceptações telefônicas da PF revelam que Célia Cury exercia intenso poder de influência junto a magistrados, com o apoio da lobista Ivone Reis Siqueira, com quem mantinha estreita relação. Ela também contava com a colaboração da filha, que atuava como assessora de gabinete de um desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, de 2 genros e dos assessores do gabinete do marido dela, e do próprio Tadeu Cury. Célia Cury e mais 8 integrantes do esquema chegaram a ficar presos por uma semana, mas conseguiram a liberdade.

 

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