Na chamada pré-campanha de 2010, os eleitores já viram José Serra (PSDB) tomando chimarrão no Rio Grande do Sul e rezando para o Padre Cícero no Ceará. Dilma Rousseff pilotou um trator no interior de São Paulo e afagou Minas com flores no túmulo de Tancredo Neves. Desde abril, porém, eles não pisaram na região Norte – colégio eleitoral pequeno, mas que se destaca como o que mais cresce no País. Desde as eleições de 2006, o eleitorado do Norte aumentou 11,2% e passou o do Centro-Oeste, que caiu para o último lugar do ranking, apesar de ter crescido 7,6%.
Os cinco Estados onde o número de eleitores mais aumentou são nortistas: Amapá, Pará, Roraima, Amazonas e Acre. Houve crescimento abaixo da média nacional no Nordeste, no Sudeste e no Sul. Esta última região é a que mais vem perdendo participação no total. O crescimento de seu eleitorado foi de 16,5% nos últimos dez anos, menos da metade dos 38,5% atingidos pelo Norte. As mudanças nas 27 casas do tabuleiro eleitoral se devem a fenômenos migratórios e a variações na taxa de natalidade.
As projeções de população para 2030 indicam continuidade na tendência de encolhimento proporcional do Sul e de crescimento maior do Norte, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A eleição de 2006 – terceira consecutiva em que houve polarização entre tucanos e petistas – foi marcada pelo contraste regional: no primeiro turno, Nordeste e Norte penderam para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Sul e Centro-Oeste abraçaram Geraldo Alckmin ( PSDB). O Sudeste se dividiu: o tucano venceu em São Paulo, e o petista, nos demais Estados. No segundo turno, Alckmin perdeu votos em todas as regiões e teve voto mais concentrado no Sul e Sudeste.
Em 2010, a tendência de regionalização do voto é similar, segundo as pesquisas. "Não tenho dúvidas de que isso vai se repetir", disse a Agência Estado, o sociólogo Alberto Almeida, diretor do instituto de pesquisas Análise e autor dos livros A Cabeça do Eleitor e A Cabeça do Brasileiro. Almeida prevê que, como Alckmin, Serra terá desempenho acima de sua média no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste, enquanto Dilma repetirá Lula ao colher seus melhores resultados no Norte e no Nordeste. Os fenômenos que turbinaram o presidente entre o eleitorado nortista e nordestino em 2006 estão presentes também neste ano: o crescimento mais acentuado da renda e do consumo e a maior abrangência dos programas sociais do governo federal naquelas regiões. Segundo estudo do Ministério do Trabalho, Norte e Nordeste lideraram o ranking de criação de empregos formais de 2003 a 2009 – o aumento foi de 67% e de 48%, respectivamente. É lá também que a valorização do salário mínimo acima da inflação teve impacto maior, pois a parcela que recebe o piso é mais ampla que nas demais regiões.
A consolidação de um bipartidarismo de fato no plano nacional pode ensejar um quadro com redutos tradicionais para PSDB e PT. Nos Estados Unidos, o mapa eleitoral situa republicanos no Centro-Sul, enquanto democratas se concentram no Norte e nas costas leste e oeste. São os red states e blue states, em alusão às cores vermelha e azul, dos dois partidos. Já Estados sem maioria definida são os swing states, cujo eleitorado oscila entre as legendas.
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